domingo, 20 de dezembro de 2009

Sobre as horas difíceis

Hoje o dia amanheceu frio e cinzento aqui em Barbacena. Não muito diferente dos outros dias nessa época do ano, mas hoje estava particularmente frio e cinzento.
Quando acordei, a mãe já estava de pé, se arrumando. Conferiu a bolsa, as roupas, tomou café e se trocou. Sentou em seu lugarzinho na cozinha, leu seu livro de orações e ficou vendo receitas na TV. Eu tentava achar algo pra falar, mas nada me vinha à cabeça. Eu que sou um falastrão,nunca sei o que falar nas horas mais difíceis. Minha tia, pra não demonstrar o nervosismo pela situação, começou a faxinar a casa às seis da manhã e quando terminei de tomar banho já estava tudo pronto.
Chegou a Kombi. Fui com a mãe até o portão, enquanto a tia terminava de se arrumar e dava as últimas recomendações à minha prima. Vim o caminho todo sem falar nada, a não ser por um breve comentário sobre o dia frio. Foi o que consegui. Logo tive que me calar, porque senti um nó vindo à garganta, o mesmo que seguro agora enquanto escrevo.
Cheguei no portão da escola. Hora de descer.
_ Bença, mãe! Vai com Deus!
_ Amém!
Entrei rápido pelo portão e procurei não olhar pra trás enquanto a Kombi ia rumo ao hospital.
Sentei no banco do lado de fora do prédio do curso. Não consegui mais segurar o nó e ele se desatou em lágrimas. Sei que eu não deveria, que deveria ser forte. Mas o medo de perder a pessoa que mais se importa com você e que você mais ama em toda a sua vida é maior que qualquer força, é maior que qualquer discurso... É maior que a vontade de chorar...

sábado, 12 de dezembro de 2009

E eu voltei no curso, revi o meu percurso...



Pois é, quem diria que eu voltaria a morar de novo aqui tão cedo. Sempre imaginei que fosse morrer aqui, mas nunca sequer imaginei estar aqui agora. Tá certo que é algo temporário. Espero que sejam meses, um ano no máximo.
Foi uma decisão difícil, mas tomada em tempo recorde. Em uma semana apareceu a oportunidade de fazer algo diferente na minha vida tendo que, ao mesmo tempo largar tudo o que tinha conquistado nesses quase 14 anos fora. Mas decidi e assim foi feito. Estou bem grandinho pra ter medo de mudanças. Larguei emprego, casa e, o mais difícil de tudo, larguei amigos.
Minha volta não foi nada como a volta de Tieta do Agreste. Não trouxe a luz para a cidade, porque sempre teve. Também não cheguei num carro vermelho com Fafá de Belém cantando Coração do Agreste ao fundo. Mas a cada passo que dava eu podia sentir minhas memórias, boas e más, me invadindo.
Não é a coisa mais agradável do mundo entrar em contato com o passado, ainda mais quando ele traz marcas que ainda são recentes. Mas os fins justificam os meios, e foi pra isso que eu vim, vim com um objetivo, e não há nada que vai me desviar a atenção dele, não agora...




quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O nome do cachorro

Tia Fulô se pelava de medo de cachorros e cobras e demais bichos que tendem a a andar soltos. Sempre andava com uma pedra ou um pedaço de pau na mão, caso precisasse apedrejar ou dar uma cacetada em algum agressor inesperado. Mulher franzina, de pernas fracas, não aguentava correr.
Mas quando ela ia por perto, no arraial mesmo, ela andava sem nada. Sempre saía pela vizinhança para o caso de precisar de uma caneca de açúcar ou palha de milho pra enrolar os cigarros.
Um dia foi até a casa de Lena, vizinha de baixo para um desses afazeres, quando lembrou que eles haviam ganhado um filhote de vira-lata que ainda não havia sido batizado. Relutou até lá sem que soubesse o nome do cachorro pra poder ralhar com ele caso ele avançasse, mas se encheu de coragem e foi.
Como é de costume no interior ela foi logo entrando, sem chamar, quando deu de cara com o pequeno vira-latas. Achando que ia passar por ele ilesa, caminhou pela sala quando sentiu a mordida em seu calcanhar magro e gritou:
_Lena! Vem aqui dar um jeito nesse capetinha!
Pronto! Estava batizado o cachorro!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sobre o feriado


Sé'setembro! É mais ou menos assim que falamos lá em Minas. Hoje em dia já não é tão mais tão empolgante. Mas quando criança era comemorado como se fosse festa.As escolasdaq prefeitura davam uniforme novo pras crianças pra sair no desfile na Rua XV de NOvembro, com parada pra hastear a bandeira e cantar o hino.
Mas o que eu mais gostava mesmo era que, nesses dias, passava na frente do sítioo Enduro da Independência. Pra quem nunca ouviu falar, era um evento de motocross que refazia o caminho de Dom Pedro I de Petróppolis a Belo Horizonte.Eram mais de 300 motos que passavem pela estradinha de terra do Sítio Três Morros, onde eu morava. Me lembro que o dia q as motos iam passar eu e meus primos levantávamos cedo, tomávamos banho e ficávamos empoleirados na cerca de tábuas, a contragosto do meu avô que volta e meia nos prometia umas palmadas. QUando a gente ouvia o ronco dos motores se aproximando, começava a gritaria! Era a cosia mais maravilhosa do mundo, pra quem só via o caminhão do leite e o fusquinha da vizinha da frente, ver aquele mundo de motos Honda coloridas e aqueles homens sujos de barro e vestidos com roupas que pareciam de super-herois.
O espetáculo durava pouco mais de 2 minutos. Os motoqueiros buzinavam pra gente, aceleravam e a gente gritava e abanava as mãos, como que os saudando. Sempre tinha também o retardatário, que a gente apontava e ria muito, por estar em último. Quando ele passava, a gente saía correndo atrás da moto dele que nem cachorro vira-lata, como quem quisesse dizer que a pé a gente chegava primeiro.
Porém, como tudo o que é bom dura pouco, resolveram asfaltar a estradinha pra trazer o progresso pra roça e nunca mais eu vi o enduro passar por lá.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Experimentando


Meu avô fumava cigarro de palha, que ele chamava de "continempaia" em alusão ao cigarro "continental" que era popular na época por ser um dos poucos que se econtrava nas vendinhas próximas ao sítio. De manhã ele fazia o ritual de preparação dos cigarros que fumaria durante o dia. Ia até o paiol e procurava uma espiga de milho bem bonita, com a palha grande e lisa. Tirava umas palhas e recortava as pontas com seu canivete de cabo de osso até elas ficarem todas em um formato retangular pra enrolar o cigarro. Depois ia até o quartinho onde guardava o fumo de corda e tirava umas lascas que depois desfiava e punha pra secar na chapa do fogão à lenha, enfurecendo minha avó:
_ Deixa de ser porco, Tião! Tô fazendo o café e tu vem com essa porcaria catinguenta pra cá!
_ Não me amola, mulher! Deixa eu secar meu fumo! Eu, hein?
Depois de ouvir a ladainha e restrucar coisas que eu não decifrava, e nem a minha avó, sob pena de uns respingos de água quente no lombo ele retirava o fumo, sequinho e desfiado. Sentava no alpendre e enrolava uns 5 ou 6 cigarros bem substanciosos que depois ficariam na janela da cozinha. Quando dava vontade de fumar ele passava por lá e pegava um. Sentava embaixo de alguma árvore ou na beira de um barranco e soltava longas baforadas de uma fumaça azul, que saía pelo canto da boca bailando no ar como uma serpente desengonçada.
Um dia, chamei o Nêgo, meu primo e cúmplice, e tive a brilhante idéia de furtar um cigarro. Eu tinha 7 anos e o Nêgo já tinha quase 9. Como o cigarro era grande, achamos melhor dividirmos um só. Pegamos o dito cujo e mais um tição no fogão e corremos para a horta, num lugar onde a fumaça não seria vista e poderíamos fumar à vontade. As primeiras baforadas vieram seguidas de um gosto sêco, e trouxeram uma tosse interminável. Mas não podíamos desistir. Mais uma tentativa e conseguimos dar uma bela tragada e soltamos a fumaça aos poucos, que nem o velho. Mais duas dessas e começamos a ouvir um zumbido. As árvore sao redor começaram a correr em círculos à nossa volta, achamos q era por isso que o vovô fumava sentado. Sentamos também, mas o enjoo não parava o céu foi ficando esquisito, parecia que ia cair e engolir a gente. O café da manhã recusou-se a ficar no estômago.
_ Nêgo- chamei por meu primo. Me dá a mão que eu vou morrer!
Fechei os olhos e acordei umas duas horas depois com a mãe chamando pra almoçar. Levantei com dificuldade e o Nêgo ainda estava ali do lado. Levantamos ainda meio cambaleantes e fomos pra casa. O almoço pareceu pesado demais, não conseguimos comer. Depois fomos pro nosso quarto, discutir a experiência.
_Que coisa esquisita! Tu ainda tá zonzo, Nêgo?
_Eu tô, amanha a gente fuma a outra metade!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sobre a dor...

Muito pequeno aprendi o que era a dor... Qualquer coisa que se fizesse em casa era motivo pra apanhar. Já apanhei de cinta, de chinelo, de vara de marmelo, de correia de motor, de cabo de vassoura, de pedaço de pau. O que me doía mais, é que quem fazia isso comigo era a pessoa que eu mais amei, e que amo até hoje. Me lembro que às vezes eu me encolhia no chão enquanto apanhava tentando me proteger das pancadas que vinham como uma chuva de pedras. Um dia resolvi gritar, numa tentativa de intimidar o agressor:
_Desgraçada! Tomara que eu morra e tu vá pra cadeia apodrecer no xilindró!
Apanhei dobrado por praguejar e ainda levei um murro na boca.
Uma vez, depois de ter feito algo errado, o que não era difícil aos olhos dela, eu fugi e me escondi no meio do milharal. Ouvia gritarem meu nome, mas o medo de apanhar era tanto que nem me deixava respirar direito. Começou a anoitecer, esfrioou e eu resolvi voltar pra casa. Apanhei por ter ficado escondido e fui dormir sem jantar. Não por ser proibido de comer, mas por não querer comer a comida feita pela mão que tanto me machucava.
Outra vez eu corri quando vi que ia apanhar e enquanto corria, senti uma pancada forte e não lembro de mais nada. Como ela não podia correr, havia me jogado um pedaço de pau que acertou em minha cabeça e eu desmaiei. Quando acordei, desejei que tivesse morrido pra que aquilo parasse. Mas não parou... Enquanto eu vivi lá, minha vida foi assim... Acho que é por isso que, por mais que eu sinta saudade, eu não consigo ficar por muito tempo naquele lugar que um dia foi o meu lar.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Dona Aurora e o José

Além dos outros filhos que tinha, Dona Aurora tinha mais quatro filhos especiais. Três deles estavam sempre pela casa, o Vaguinho, o Chico e a Deléia. Mas tinha também o José, que eu nunca tinha visto, mas sempre ouvia falar dele.
A mãe era amiga da Dona Aurora e ia sempre à casa dela pra comprar farinha de milho e uns beijus, que eu adorava e ela sempre mandava uns bem grandões, e eu vivia pedindo pra conhecer o José. A resposta era sempre negativa, e eu ficava imaginando o porquê. Será que o José não gostava de criança? A gente sempre tinha que esperar na cozinha, sentado quietinho enquanto elas estavam no quarto dele.
Eu fui crescendo e um dia, sem ao menos esperar, a mãe me chamou:
_Vamos lá na Dona Aurora visitar o José?
Meu coração disparou de ansiedade. Como seria o José? Será q ele ia gostar de mim? A caminhada de poucos metros entre os dois sítios nunca me pareceu tão longa. Chegamos lá, a mãe me pegou pela mão e pediu se eu podia entrar no quarto com ela. Dona Aurora assentiu com a cabeça e entramos. Vi uma cama de madeira que parecia um berço grandão com grades altas, virado pra janela de onde se via o dia ensolarado. Minha ansiedade aumentou, me aproximei da cama e vi o José. Não esperava ver que ele era um adulto, que devia ter mais de 20 anos. Confesso que me assustei um pouco, pois achava que José era um tipo de bebê ou uma criança que gostava de ficar sozinha. Mas quando ele viu a mãe, abriu um sorriso e seus olhos brilharam. Era como se ele quisesse conversar, e respondia a cada palavra com um pequeno e esforçado gesto. Senti algo vindo do fundo da garganta que eu não sabia o que era, parecia que eu ia chorar.
José teve paralisia ainda bebê, e por isso ele era mantido no seu quartinho, sempre no seu berço e raramente saía pra ver o mundo de fora. No começo achei que era uma maldade deixar ele ali, isolado em seu berço, olhando constantemente pra uma janela aberta. Mas depois entendi que o que Dona Aurora fazia era proteger o seu bebê do preconceito e das estranhezas do mundo, e que pelo jeito que ele estava, amor e cuidado não lhe faltavam. Passei a gostar ainda mais dessa grande mulher, e dos beijus que ela me mandava com tanto carinho.
Até hoje não tenho mais notícias dele, mas sei que esteja onde estiver, foi uma das pessoas mais amadas e protegidas que eu já vi.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sobre como ter tato pra dizer as coisas.


Tia Zilda era diabética. Por mais que a família tentasse controlar sua dieta, ela sempre dava suas escapadinhas. Era cozinheira de mão cheia, e comer era um de seus grandes prazeres. Como muitos que sofrem do mesmo mal, não aceitava ser privada dos pecados doces da vida e sempre se revoltava quando um chocolate lhe era negado.
Porém, como não podia deixar de ser, o mal se agravou e um machucado que não sarava nunca por conta da sua taxa de glicose sempre desregulada acabou por tomar-lhe toda a perna. teve que ser amputada. Tia zilda se viu perneta no alto de seus 70 anos. Deprimida, Tia Zilda chorava pelos cantos, com saudades de sua perna. A família ia visitar, e sempre a mesma coisa, Tia Zilda chorava lamentando a perda do membro querido.
Um dia, foi visitá-la meu primo Fernando. Homem bronco e decidido, fala o que quer e doa a quem doer. Quando viu que o chororô ia começar ele olhou bem nos olhos dela e perguntou:
_ Tia Zilda, a senhora joga futebol?
_ Não, filho.
_ Anda de bicicleta?
_ Tamabém nunca andei não...
_ Então me responde uma coisa, pra que a senhora quer duas pernas?
Quem estava na sala ficou mudo, mas a risada sonora de De Tia Zilda quebrou o silêncio. E ela nunca mais chorou por conta da tal perna!

domingo, 17 de maio de 2009

A mulher santa

Minha mãe trabalhava no Rio de Janeiro, na casa de uma senhora muito alta e peituda chamada D. Hilda. Sempre que ia pra lá nas férias algo me intrigava. D. Hilda se levantava cedinho, ia até a copa, tomava um cálice de vinho e comia uma hóstia. Todo dia esse ritual. Eu, com 5 ou 6 anos na época, ficava admirado, achando que a mulher era santa, porque a hóstia que ela comia era do mesmo tamanho da hóstia do padre, daquelas bitelonas.
Tinha medo de chegar perto dela, achava que ela devia ser meio santa, ou algo parecido. Ela se aproximava e eu procurava ficar bem quietinho, escutando o que ela tinha pra falar, e quando me perguntava algo eu assentia com a cabeça ou forçava um sorriso meio amarelo.
Anos depois, já morando aqui em São Paulo, descobri a fonte da santidade da velhota... A lojinha japonesa! Sim, a tal da hóstia era nada mais nada menos que uma bolacha "sembei" que ela comia junto com o cálice de vinho q ela tomava. A pergunta que não quer calar agora é: Por quê só UMA bolachinha?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

E a alma renasceu com flores de algodão...

Eu respiro música, todo mundo sabe. Morro sem meu mp3, e não podem faltar vocais femininos. E lá em Barbacena, quando eu era criança pequena, como ainda não havia tal tecnologia, era o toca-discos que ficava ligado o dia inteiro. 
Pois bem... Eu tinha 10 anos e era a época que estava passando a novela Tieta do Agreste, que eu assistia todo dia antes de dormir, contrariando minha avó. E na trilha sonora estavam presentes 3 divas da nossa música: Fafá, Elba e Simone. Um dia chega minha tia da cidade com o volume 1 e o volume 2 da trilha de Tieta. E os vinis tocavam sábados a fio, dia de faxina, e cantávamos como se não houvesse amanhã.
Um belo dia, enquanto minha tia encerava e eu passava o escovão, recebi o encosto da Julie Andrews e desatei a cantar Coração do Agreste, da Fafá de Belém, que era tema do retorno da Tieta pro Mangue seco. Eu de cabeça abaixada, distraído, mandando ver no escovão na sala de estar e arrasando no refrão: 
_ "E a alma renasceu com flores de algodão no coração do agresteeeeeeeeeeeee! Quaaaaaaaaaaaaaando eu morava aqu...."
Vi um uns reflexos no chão... Tentei contar quantos eram... olhei de relance pra cima e... Visitas... Que não chamaram no portão porque me ouviram cantando e perceberam que tinha gente em casa.
Larguei o escovão e saí correndo, morto de vergonha e me escondi na horta até o povo ir embora... Foi quando decidi que ia pedir pra minha mãe levar pra mim um walkman de presente de Natal!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O pedido

Tia Fulô fez 80 anos e foi ficando com medo de morrer. Sempre ficava meio doente já alertava a família:
_ Tá chegando minha hora derradeira!
Um dia ela chega em casa com um pacote e chama a minha avó de canto:
_ Espia aqui, comadre. Essa combinação e essa calcinha eu comprei pra quando eu morrer você me vestir.
Minha avó tem pavor de gente morta, não titubeou.
_ Tá doida, comadre Fulô?  Se depender de mim, tu vai conhecer o capeta com essa xereca velha de fora!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Guerra e paz!

Em Minas temos um papagaio que atende pelo criativo nome de Lourival. Lourival é meio parecido com minha avó, deve ter adquirido um pouco da personalidade dela. Ele não gosta de qualquer um, é bem na dele e adora chuva e barulho de liquidificador. Como todo bom papagaio de roça, Lourival domina a cozinha, dorme no cantinho do fogão a lenha, aproveitando o calorzinho que remanesce da queima do dia inteiro.
Porém, um dia me chega a tia Arlete com um filhote de pomba que ela achou caída na beira da estrada. Nem precisa dizer que o ciumento do papagaio odiou a pobrezinha desde que colocou os olhos nela. A pequena pombinha dava bobeira e lá ia o Lourival pra cima dela. Resolvi dar um basta nisso!
Quem me conhece sabe, assim como sou passional, também sou apaziguador. Cheguei da escola determinado a terminar com aquela situação. Peguei Lourival do poleiro, levei até onde ficava a tal da pombinha e disse:
_ Olha, Louro! Larga a mão de ser chato, ela é sua irmã de criação agora. Pode ir ficando amigo dela!
Ele me olhou meio de banda, depois olhou para a pomba e... Zás! Deu uma bicada certeira no pescoço da meia-irmã, que capotou na hora. Antevendo a surra que tomaria por isso, tentei reanimar a pombinha, coloquei ela debaido d'água, esfreguei o peitinho dela e nada. Algum tempinho depois e ela estava dura, mortinha da Silva.
Sim, levei a surra e descobri nesse dia que, quando há uma briga, o melhor é deixar as coisas se acertarem por si próprias... Quer dizer, acho quenão aprendi tão bem assim não...

quinta-feira, 19 de março de 2009

O cliente tem sempre razão!

Minha mãe chegou do shopping toda cabisbaixa.
_ Pôxa, fui nas Americanas do shopping e tinha uma chapa de waffle que eu queria muito comprar. Mas o meu dinheiro não dava eu deixei reservado. Se eu te der o dinheiro você busca lá amanhã?
Como eu tinha recebido uma grana, e fazia tempo que eu não dava nada pra ela, falei:
_ Nem precisa deixar o dinheiro, eu busco e te dou de presente.
_ Faz assim, eu deixo o dinheiro que eu tenho e você completa. Já deixei reservado.
No outro dia eu volto do trabalho, passo em casa, deixo minha mochila e vou buscar a tal chapa nas Americanas do Shopping Light.
Chego na loja e procuro uma balconista. Meia hora depois vi uma moça com uniforme, com toda boa-vontade do mundo veio me atender:
_ Pois não, senhor?
_ Minha mãe deixou reservada aqui uma chapa de waffle da Black&Decker, de aço inoxidável. Vim buscar.
_ Nós não temos, senhor.
_ Como não tem? Não tem pra vender?
_ Não temos na loja, senhor.
_ Mas a minha mãe veio aqui ontem, falou com uma moça e reservou.
_ A moça que trabalhou ontem não se encontra, senhor.
_ Ok, mas ela não levou a chapa pra guardar em casa. Se ela reservou está aqui. Não tem como você verificar?
_ Vou chamar a pessoa responsável senhor.
...
Passados uns minutos chega outra moça no balcão:
_ Sr. Charles?
_ Sim!
_ Sou a gerente da loja. Realmente verificamos e não foi reservada nenhuma peça senhor. E como era um produto em promoção, não haverá reposição no estoque.
_ Mas não tem umazinha sequer? Verifique pra mim, por favor.
_ Vou verificar no sistema, senhor...
...
_ Então, senhor. Verifiquei aqui no estoque e realmente não há mais nenhuma peça na loja. A última foi vendida ontem no final da tarde. Você tem certeza que a nossa vendedora disse que guardou a mercadoria?
_ Minha mãe disse que reservou, ela não está louca. Sua funcionária deve ter guardado, ou ela é uma irresponsável que falou que ia guardar a bosta da chapa e não guardou.
_ O senhor está ficando nervoso.
_ Não estou ficando, filha. Já estou! Como é que vocês falam que vão guardar uma coisa e não guardam? Pra me fazer vir aqui que nem idiota?
_ Podemos verificar se ainda há em outra loja próxima senhor.
_ Daí vocês trazem pra cá?
_ Não, senhor. O senhor terá que buscar na loja.
_ Daí eu chego lá e não tem e eu fico com cara de ostra, que nem eu fiquei aqui.
_ Podemos ver se há em uma das lojas próximas senhor...
....
_ Senhor, verifiquei e há duas peças na unidade São Bento senhor, que é só atravessar o Viaduto do Chá. Quer que reserve?
_ Não precisa. Pra depois chegar lá e falar que não tem? Deixa q eu dou uma corrida lá e compro.
_ Obrigada, senhor!
_ De nada... Cínica- pensei comigo!
...
Cheguei na tal loja, tinha umas 30 da tal chapa ainda. Comprei e levei pra casa.
No caminho de casa, minha mãe me liga no celular:
_ Comprou a minha chapa?
_ Ah! Nem me fala... Aquele pessoal da loja é um bando de incompetente. Não guardaram porra nenhuma e depois de meia hora de jogo de empurra me mandaram ir na loja da Rua Direitra ali na São Bento buscar a tal da ditra cuja.
_ Nossa, mas do Tatuapé te fizeram ir na São Bento?
_ Ahn? Você reservou no Shopping Tatuapé?
_ Foi. Por que?
_ Nada não...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Causa mortis: distração!

Quase meu post anterior foi o derradeiro. Ontem eu cheguei em casa e estava com fome, muita fome! Como estou dando um tempo nos carboidratos, coloquei um ovo pra cozinhar. Daí sentei no sofá e fui ver tevê. Lá pelas 3 da manhã, acordei com um cheiro esquisito, como se uma coisa muito fedida estivesse pegando fogo e fazendo muita fumaça. Eu percebi que a fumaça já tinha entrado no apartamento, eu já estava ficando meio tonto e com dor de cabeça. Fui ver na janela e percebi que, em vez de entrar, a fumaça saía. Sim, o ovo que eu coloquei pra cozinhar ainda estava lá, ou o que restava dele. A chaleira da minha mãe soltava pelo bico uma fumaça marrom e densa, a cozinha insuportavelmente fedida, e o meu jantar havia se reduzido a um montinho de carvão fedido e fumacento que quase me matou intoxicado... Se meu DDA me mata, eu ia roubar a idéia do epitáfio da Rosana Hermann: "Era só o que me faltava!"

segunda-feira, 9 de março de 2009

Prêmio Dardos


Então, sou meio português e não entendi direito, mas fui indicado ao Prêmio Dardos por alguns amigos, e dizem que funciona assim:

Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

As regras para o selo Prêmio Dardos são:
1 - Colocar a imagem do selo no seu blog.
2 - Linkar a pessoa que te indicou
3 - Indicar mais 15 pessoas ao prêmio
4 - Comentar no blog dos indicados sobre esta postagem.

Aqui estão meus indicados:

Está aí! Mais tarde venho com um post!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

30 anos

Semana passada, na quarta-feira, fiz 30 anos. Aniversário pra mim sempre foi uma coisa muito chata. A maioria das pessoas que eu gostara que lembrassem não lembram, presente é uma coisa que pouco ganhei na vida e festa, então, nem se fala.
Porém dessa vez, meu aniversário foi o melhor de todos, tirando o pequeno incidente com um cara que, dizendo ser da polícia civil me deu um tapa e uns safanões na rua, bateu no meu amigo e ainda quebrou meu celular.
Além de comemorar na quarta e no sábado com baladinha com poouquíssimos e grandes amigos, no domingo tive uma festinha com direito a chapeuzinho e tudo na casa da Lele, que ganhou o primeiro pedaço do bolo. Quase chorei, porque assim... Eu só havia tido uma festa de aniversário em toda a minha vida. Claro que no trabalho já cantaram parabéns, mamãe já fez um bolinho pra comermos só eu e ela... Mas festa com amigos e bolo e velinha e chapeuzinho e parabéns-pra-você, essa foi a segunda.
A primeira foi no meu aniversário de 7 anos, e me lembro q eu usei uma camisa pólo amarela, que ganhei da minha mãe e manchei ela de bolo, sempre fui jeitoso! Daí eu troquei a camisa por uma do pateta com detalhes em vermelho e azul na barra, linda! Porém, nessa hora, meu primo tinha ido na casa da viznha buscar não-sei-o-quê e o cachorro dela, endemoniado, pegou o pobrezinho pelo braço e saiu arrastando ele pelo quintal. Ou seja, metade da festa eu fiquei triste, esperando o Nêgo (era o apelido dele) voltar do hospital pra cortar o bolo. Mas depois que ele chegou nós brincamos como se não houvesse amanhã!
Putz! Me lembro agora que o bolo era do Superman, assim como a decoração da festa, por isso gostei tanto da camisa com vermelho e azul. Nesse dia também me lembro que minha avó tirou uma foto abraçada com meu avô, pela primeira vez na vida (que eu tivesse notícia) e minha professora, a tia Eliane, foi lá em casa e me deu um caminhãozinho de bombeiros! Esse é o único presente que me lembro de ter ganhado. Claro que ganhei outros, mas o da professora foi o único que marcou.
Uma pena que eu não tenha fotos desses momentos de minha infância, mas isso é assunto para um próximo post...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobre a hora de dormir

Hora de dormir. A mãe me levava pra cama, me deitava e me cobria. Bastava apagar a luz do quarto pra eu acordar.
_ Fica aqui, mãe! Só até eu dormir!
_ Já tava dormindo, fecha o olho que dorme de novo!
_ Perdi o sono!
_ Perdeu não! Tá caindo de sono! Deita e dorme!
_ Então conta uma história?
_ Não, vai dormir!
_ Conta, mãe! Só uma!
_ Era uma vez uma a Vaca Vitória, ela caiu no buraco e acabou a história! Pronto, vai dormir.
E apagava a luz...

domingo, 25 de janeiro de 2009

Sobre o que as pessoas realmente acham da gente!

Quem não me conhece, que me compre. Estava agora há pouco conversando com meu amigo no messenger. Daí falei uma coisa pra ele que deu rumo a isso:

vic diz: 
li um livro q é inteiro uma narrativa (tipo autobiografia), a fala da personagem é mto parecida com a sua

Charlie diz:
adoooro, me fala qual é

vic diz:
vc vai ter q ler

Charlie diz:
 assim que tiver dinheiro eu vou comprar, ou melhor...

vic diz:
eu posso te emprestar

Charlie diz:
 me DÁ de aniversário, sadhsduhsaudhausd

vic diz:
também, tá chegando

Charlie diz:
eu peço mesmo, é meu jeitão

vic diz:
nao vai levar a mal, mas é sobre luxúria
         
Charlie diz:
tomar no cu

vic diz:
jhahahahahahahahhahh

Charlie:
 me chamando de biscate, hahahahahahah

vic diz:
hahahah, chama "A Casa dos Budas Ditosos"

vic diz:
a fluencia da mulher q fala, e o jeito d falar me lembra mto você...

Pra quem não sabe é a história de uma velha devassa, que "ela" mesmo conta com riqueza de detalhes. Escrita por João Ubaldo Ribeiro! 
Agora vou ter que dormir com esse barulho!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Sobre como perguntar as coisas

As gírias dos anos 80, venhamos e convenhamos, nunca foram muito claras. Mas uma sempre me intrigou, desde pequenino. A tal da pinóia! A pinóia aparecia no domingo:
_ Mãe, me leva pra passear?
_Vou levar uma pinóia!
Na hora do almoço:
_ Não quero verdura não, quero comer ovo!
_ Ovo é uma pinóia!
Nos passeios pela cidade:
_ Mãe, compra um brinquedo?
_ Vou comprar uma pinóia!
Então, como a tal da pinóia era dita, mas sempre em coisas que me desagradavam, achei que significasse algo que não fosse muito agradável. Até que um dia, enquanto a mãe conversava com visitas, decidi esclarecer com os adultos o que era a tal da pinóia. Entrei na cozinha e soltei:
_ Ô, mãe... Essa tal de pinóia é de enfiar no cu?
A resposta que veio não era o que eu esperava, e assim eu fui pro quarto com a bunda quente!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sobre as semelhanças

Chega de férias. Passei um tempinho em Minas com vovó e trouxe mais um monte de causos pra pingar aqui. Mas, como tenho passado muito tempo com minha mãe, que entrou 2009 praticamente transformada em outra pessoa, resolvi homenageá-la na primeira postagem do ano. Minha mãe tem um senso de humor incomum, ela pode ser brava, carrancuda quando está com raiva, mas nunca a vi triste! E tem um sorriso enorme, que exibe uns 385 dentes, quem a conhece sabe a figura que é!
Esses dias estávamos vendo um filme juntos, e ela milagrosamente estava calada. Sim, porque minha mãe fala mais que o homem da cobra. Ela comenta desde o cenário ao desempenho dos atores, fora as histórias que vão pipocando na mente dela e ela num aguenta guardar pra depois do filme. Estávamos vendo  A Cor Púrpura, que eu ganhei de Natal. De repente ela começa:
_Quando passou esse filme na televisão a primeira vez, eu tava na sala e as crianças me chamaram: "Leni, vem ver a atriz que parece com você!" Eu fui toda feliz pra ver quem era. Era a Whoopi Goldberg. Eles viram minha cara de triste, e tentaram me consolar: "Fica assim não, Leni! você não é bonita, mas é muito legal"
Não aguentei, olhei pra cara dela e soltei uma gargalhada. E ela virou e disse:
_Tá rindo? Todo mundo fala que tu é a minha cara!