segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre os mistérios da noite.

A noite pra quem mora na roça é um assunto à parte. Há muitos mistérios e temores por baixo desse véu negro que nos cobre todos os dias. Eu sempre me pelei de medo do escuro. Uma das minhas tarefas era fechar as janelas todos os dias e eu fazia isso com o coração prestes a pular pela boca, tamanho o medo do escuro. Não, nunca me ocorreu ir acendendo a luz dos 12 cômodos da casa enquanto eu fazia isso. Quando fechava a última janela eu voltava correndo até chegar à cozinha são e salvo. Grande parte desse medo eu devo à mãe, que sempre contava suas histórias de assombração com muitos lobisomens, mulas-sem-cabeça, almas e outras criaturas. Ela jura de pés juntos que o Saci em pessoa fumou o cachimbo da vó Maria, sua sogra, enquanto ela cochilava na cozinha. Mas o que eu mais tinha medo mesmo era o tal do lobisomem, que aqui em Minas não é um lobo, mas sim um porco peludo de presas saltadas que percorrem sete arraiais pelas redondezas assaltando galinheiros pra comer as bostas das galinhas. Uma das minhas histórias preferidas, hoje que eu não tenho medo é do dia em que o lobisomem derrubou a parede de sua casa. Era tarde da noite e ela estava com sua cunhada na cozinha de sua casa de pau-a-pique conversando quando se deram conta que já era tarde e fizeram troça de um velho q morava por perto

_Vamos dormir, comadre Dolores. Hoje é dia do Seu Antônio virar lobisomem.

Dito isso, deram umas risadas e foram deitar. Ao acabarem suas rezas e já debaixo das cobertas, ouviram as galinhas alvoroçadas no galinheiro. Ficaram quietas e viram que o barulho se aproximava. Quando menos esperavam, a parede da cozinha veio abaixo. Levantaram e correram até lá para ver e puderam avistar o bicho se afastando. Era um porco peludo e enorme, com a traseira mais alta do que a parte da frente que ia em disparada pela estrada na frente da casa. Sim, era o lobisomem. O Seu Antônio tinha resolvido se vingar da brincadeira das duas, e de quebra faturar umas bostinhas no galinheiro.

A mãe sempre contava essas histórias na hora da gente ir pra cama e eu sempre rezava uma Ave Maria extra, pro caso do Seu Antônio ainda estar vivo.