terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Forever incomplete...

Talvez esse seja meu último post do ano. Talvez esse seja meu último post. Eu hoje tomei uma decisão que pra alguns pode ter sido uma coisa idiota, mas que  pra mim significou muito. É muito difícil pra mim, uma pessoa mega carente, insegura e o cacete a quatro, se desligar de alguém que eu julgava importante. Porém, tive que fazer isso. Está sendo difícl, está sendo doloroso, mas há coisas que são necessárias. Sabe aquele lance de passar pelos espinhos para colher os morangos mais doces? Eu acredito nisso. E cada vez mais eu tenho passado por todos os espinhos, os mais pontiagudos e firmes, que rasgam a pele e cortam fundo e que vão deixar marcas bem visíveis. Passo por isso tudo esperando chegar a eles mais cedo ou mais tarde, ainda que pensem  que jamais os encontrarei em lugar algum. Mas esses tais morangos parecem estar cada vez mais distantes, e seu vermelho se confunde com o sangrar de um sofrimento que uns até julgam desnecessário, mas que eu julgo ser crucial ao meu aprendizado. Talvez eu esteja vivendo na esperança de algo inexistente, talvez eu esteja certo. Não sei, espero chegar a esses tais frutos que, ao colher, não saberei que gosto terão, mas que experimentarei seu gosto, sendo doce ou azedo. Porque foi por eles que eu passei por tudo isso e de forma alguma será em vão.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sobre as perdas e danos

_ Você tá com uma cara séria, Charlie. Aconteceu alguma coisa?
Foi o que me disse Ana ontem ao chegar em casa e me pegar perdido entre milhares de pensamentos. Minha vontade era sentar e desabafar, mas não achei justo com ela compartilhar minhas fraquezas e tristezas depois de um longo dia de trabalho. Disse que só estava com sono e tentei, em vão, adormecer logo.
Aconteceu muita coisa esse ano e revendo tudo desde o primeiro dia, pude constatar que foi um ano de muitas e irrecuperáveis perdas. Perdi minha avó, o maior amor da minha vida, perdi a Gabi, perdi minha mãe para seu egoísmo, perdi meu lar, perdi amigos que me acompanharam durante anos dizendo que sempre estariam ao meu lado, perdi também outros recentes que me diziam ser importante. Perdi a fé, perdi a vontade de lutar por meus ideiais, pela minha vida. Me vi em um momento em que estava somente em pé e respirando, sem viver e sem vontade de fazê-lo.
Tudo isso teria sido insuportável se não fossem  amigos que, do seu jeito, sem saber direito como demostrar apoio, amor, me guiaram através dessa escuridão. Ouviram meus choros, seja abraçado no sofá ou seja a quilômetros de distância via telefone, ouviram meus raros momentos de felicidade e se fizeram presentes, ainda que não fisicamente. Mas ainda assim foi e está sendo um ano muito duro.
Me vejo aqui hoje, impotente, esgotado. Olhando pra trás e ver que minhas conquistas ficaram longe,  e estão praticamente invisíveis sobre uma montanha de derrotas. Me entreguei tanto, me doei tanto a vida inteira, que hoje parece que minhas forças se esgotaram. Podem me achar injusto enquanto estou aqui falando sobre as coisas ruins, parecendo dar importância mínima às coisas boas. Mas coisas ruins deixam marcas, algumas mais profundas, outras mais dolorosas. E o que acontece de bom nem sempre é o suficiente pra fazer essa dor passar e essas marcas amenizarem.
Fico aqui machucado, dolorido, com o peito e a alma despedaçados. Fico com os que ainda estão do meu lado, me dando forças pra continuar e me levantar, pra voltar a caminhar de novo em 2012.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre o perdão

Acordei hoje com essa palavra me martelando as ideias: perdão. Pensei em buscar a origem da palavra e tecer teorias sobre o assunto, mas todo mundo sabe que eu não sou assim. Então resolvi falar do perdão do meu jeito mesmo, do meu jeitão.
A minha avó, a mãe que tanto amei, foi uma das pessoas mais rancorosas que eu conheci na vida. Ficou quase 30 anos sem falar com um irmão, irmão que ela amava, tudo isso por se negar a perdoar. A reconciliação dos dois foi uma das coisas mais bonitas que eu já pude presenciar na minha vida toda. Mas o que me encafifou foi o fato de ter demorado tanto pra eles se perdoarem. Por que tanto tempo se privando um das risadas do outro, das histórias, das lembranças? Seguindo o exemplo da mãe, minha tia Inês é outra mestre na arte do rancor. Daquelas que atravessam a rua pra não ter que passar perto de quem ela não gosta, que prende a respiração pra não ter que dividir o mesmo ar com um desafeto. Pra quê?
Daí eu vim pra São Paulo. Na cidade grande e fria, percebi que muitas pessoas mal se falavam. Não tinha muitos amigos de verdade até que, por obra do acaso, me inseri num grupo de pessoas que me enchiam de orgulho. Era uma família unida, coisa que eu nunca havia tido. Estávamos sempre juntos pro que desse e viesse. Mas nem tudo é perfeito. Começaram a surgir coisas que foram tornando a convivência de todo o grupo menos agradável. Não sei se chamo de inveja, oportunismo, ego. Eu só sei que conseguiram fazer algo que eu achava até então impossível. Enfraqueceram o elo que unia o grupo. Se formaram grupos paralelos, os defeitos de todos começaram a superar as qualidades, havia discussões e brigas quase que semanais. E com o desgaste, o elo se rompeu. Não conseguiu mais suportar unir a todos com o peso que essas coisas traziam.
Hoje, eu que transito entre esses mundos que se formaram paralelamente, por alguns deles, fico me perguntando o que levou a essa situação. O que teria sido mais forte que uma amizade de anos a fio, que uma confiança extrema adquirida. O que seria tão ruim que pudesse ter causado essa ruptura tão brusca e cheia de tristeza. Porque me lembro muito bem que o elo me dizia sentir muita tristeza. E a dor que via em seus olhos aperta aqui o meu peito enquanto eu estou escrevendo isso. Essa dor e essa tristeza, fez com que o amor se afastasse, a desconfiança e a insegurança ganhassem força e essa família hoje está tão enfraquecia que eu não sei mais se é uma família.
Penso porém que ainda há uma chance. Acredito em ver todos reunidos celebrando a felicidade. O que precisa é a oportunidade de haver um perdão, um perdão sincero. Sem conversas que busquem achar um culpado, ou uma razão pra que as coisas acontecessem.
Essa semana mesmo, me senti leve por perdoar a minha mãe. Que me feriu  muito com uma escolha que fez pesando em sua felicidade. Mas com a Tia Vera eu aprendi uma coisa. Ela disse no velório da nossa Gabi que antes de virmos a esse mundo, escolhemos tudo pelo que vamos passar. Ao ouvir isso eu pensei e decidi perdoar minha mãe. Liguei pra ela na semana seguinte, porque perdoar não acontece de uma hora pra outra, num estalo, e conversei com ela. Não mencionamos sequer a palavra perdão ou reconciliação, mas pelo tom da conversa eu senti o perdão aceito. A voz mansa e o riso fácil vieram logo após o alô.
Isso que eu espero dos que estão à minha volta. Que aceitem as coisas que aconteceram e não levem isso adiante. Perdoem uns aos outros e vivam o que tem que ser vivido juntos, sentindo o apoio e o amor enquanto podemos estar juntos. Porque se for esperar, pode ser que a hora certa não chegue. E aí, vai restar pedir perdão a Deus, mas não acho que isso adiante muito, porque Deus não foi quem ficou magoado nessa história.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre a Gabi...

_ Oi, tudo bem? Eu sou o Charlie Liu.
_ Oi, prazer! Eu sou a Gabinacozinha!
_ Gente, mas eu jurava pelo seu avatar que voce era loira!
_ HAHAHAHAH! Nunca fui, tava ruiva no avatar! Não é por causa do chapéu de chef?
_ Deve ser... HAHAHAHAH!
Foram essas as primeras palavras que me lembro de ter trocado com Gabi no dia em que a conheci, junto com o Tiul e a Kaikaa e o Gabbones. De uma vez só entratam três pessoas muito queridas na minha vida. Mas eu não sei se pela proximidade geográfica ou pela mineirice, a Gabi foi a que mais se aproximou de mim.
Com sua amizade, vieram muitos ensinamentos. Com ela aprendi a rir nos momentos difíceis, a falar das coisas duras da vida com leveza e a poder desabafar com os amigos sem vergonha na hora da necessidade. Gabi nunca deixou de ouvir quem precisasse de seu ouvido generoso, pois sabia que cada um tinha seus problemas e assim como recebia a ajuda e o carinho com extrema humildade, também distribuía sorrisos, afagos e palavras de conforto.
No tempo que fiquei longe, nunca deixou de querer saber como eu estava. Quando retornei, me recebeu com um abraço apertado, no qual eu me empolguei e quase quebrei suas costelas. Não tinha como não exagerar no amor estando perto dela.
Neste último ano, nossa Gabi enfrentou sua mais dura batalha e, contrariando as estatísticas, conseguiu ficar entre nós por tempo suficiente pra nos dar mais lições de bravura, serenidade e sobretudo lições de amor! Por ela nos desapegamos da vaidade, raspamos nossos cabelos, formamos uma família enorme. Gabi e as pretinhas, sempre juntas.
Com o humor e a simplicidade que sempre foram, pra mim ao menos, sua marca registrada, ela se despediu de nós:
"(...) fiz até xixi (...)"
Amanhã faria mais uma cirurgia, mas nosso Pai resolveu levá-la consigo antes de passar por mais um sofrimento. Hoje à noite, quando chegasse em casa, eu ia gravar essa música e mandar pra ela num videozinho, pra que ela pudesse ver e saber que eu estaria com ela nesse momento difícil... Não deu tempo, Gabizinha...
Meu passarinho, sou seu sabiá... Não importa onde for, vou te catar, te vou cantar.. Te vou, te vou, te vou...
Pra você ouvir, minha linda, pede o notebook do Papai do Céu emprestado:

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sobre a inconstância


A gente acorda sem saber o que esperar do dia. A gente abre a torneira sem saber a temperatura da água. A gente liga o chuveiro sem saber o quanto ele vai demorar pra esquentar, nem se a água vai se manter quente até o fim do banho. Depois, no ponto do ônibus não há a certeza de quanto vai demorar pro ônibus passar e nem quanto tempo você vai demorar pra chegar ao destino. Nada na vida é certo, nada pode ser programado com perfeição. Assim também são as pessoas, não se pode prever as variações de humor, não se pode ler o que se passa nas mentes. 
Com o tempo, alguns aprendem a ler alguns sinais, a ter tato, mas ainda assim há o dia em que vamos errar e fazer algo inesperado. Assim a gente aprende também a não esperar sempre as mesmas atitudes, a mesma compreensão, o mesmo afeto, as mesmas palavras. Há dias e dias. Haverá vezes em que os abraços esperados não virão, que os apertos de mão não vão ser tão intensos quanto de costume, que as palavras não virão com a mesma doçura. 
Mas há dias também em que tudo vai parecer dar certo. A água sairá da torneira com a temperatura agradável, o banho será quentinho e confortante e o ônibus vai chegar no ponto junto com você, que vai conseguir chegar no trabalho na hora certa. Vai ser nesse dia que aquela pessoa vai te dizer as palavras que você esperava ouvir e você vai saber que valeu a pena ter passado por todas as incertezas da vida sem perder as esperanças.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sobre a tristeza


Nem acredito que já fazem três meses. Ainda parece que foi ontem que estive com ela, deitado na sua cama, prometendo que a visitaria de novo em breve. Sua partida me deixou um vazio muito grande, que não sei se algum dia vou preencher. Às vezes digo pros outros que estou bem, procurando fazer com que eu mesmo acredite nisso, mas não estou e tenho muito medo de que um dia eu não aguente mais segurar e ser forte. Em cima disso tudo vieram vários problemas de família, grana. Nessa hora, a gente vê os amigos que estão com a gente de verdade mesmo, descobri que são pouquíssimos os que estão por perto de verdade, mas agradeço todos os dias por eles estarem na minha vida. Não sei se teria forças pra levantar da cama se não fossem essas pessoas que, estando perto ou estando longe, fazem questão de estar sempre comigo.
Essa noite eu sonhei que a mãe estava aqui, comigo. Que eu coloquei uma roupa bem bonita nela e levei ela pra ver a Mari cantar, depois fomos pra casa e conversamos. Quando eu acordei, me lembrei que não teria dinheiro pra almoçar direito hoje, então resolvi ficar quieto na cama pra não sentir fome até dar a hora de ir trabalhar. Nisso a minha tia me ligou, dizendo que estava preocupada comigo e ia depositar 50 reais na minha conta. Fui ao banco e comecei a chorar no meio da rua, só pode ser a mãe olhando por mim de onde ela está. Tem horas que não aguento mais e tenho vontade de largar tudo pra trás e ir pra junto dela, mas também sei que não é isso que ela esperava de mim. Enfim, foi um texto curtinho, um desabafo, nem sei se vou deixar ele aqui no blog por muito tempo. Talvez eu volte aqui e apague...

domingo, 19 de junho de 2011

Sobre a imensa dor da saudade

"Eu tava cansada e tava indo deitar, mas acho que bobeei no meio do caminho. Entrei no quarto e passei a mão na cama, mas achei que alguma coisa tava esquisita. O colcão tava meio mole, a cama parecia pequena. Passei a mão na parede e também não achei o botão da luz. Tentei sair, não achava a porta, foi quando eu vi que tava perdida e chamei a Maria."

Essa foi a última história que eu ouvi a mãe contar, no dia do seu aniversário. Também foi essa a última vez que eu estive com ela. A última vez que eu deitei na sua cama, que senti seu cheiro, que conversamos.
Hoje está fazendo um mês que ela se foi e eu consegui segurar as lágrimas até agora, mas elas teimam em vir cada vez em maior quantidade. Não sei se é a saudade ou se é a certeza de ter perdido a pessoa que mais me amou nessa vida, ou talvez a única que o tenha feito de verdade. 
Às vezes tenho vontade de desistir de tudo, e ir pra junto dela. Porque está muito difícil aguentar tudo sozinho. E acho que já o teria feito, não fossem alguns que, estando por perto, me dão um pouquinho de forças pra continuar.
Obrigado André, Eduardo, João e Ronald, por serem essa força que ainda me faz continuar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Sobre o desabafo ou Sobre os pensamentos desconexos


Não sei como começar. A princípio vem a dor absurda de um ciclo que está prestes a terminar. Algo para o qual eu já devia estar preparado, mas descobri não estar. Chegar em casa e ver a mãe lá na cama, amarela e fraquinha, reclamando das dores me cortou o coração. Aquela mesma cama que eu dividi com ela durante anos, hoje parece incomodar. As costas não se ajeitam, o espaço parece ser pouco. 
Além dessa dor da perda iminente, há também a dor da solidão. Com a maioria dos amigos distantes, de todas as formas que poderiam estar, fica chato levar os problemas àqueles poucos que estão sempre por perto. Pela primrira vez na vida eu sinto a necessidade de ter alguem do meu lado me consumir. Eu que sempre gostei de brincar sozinho e falar sozinho, hoje as palavras me faltam por saber que não há ninguem por perto pra escutá-las. Daí eu começo a imaginar coisas, fantasiar, como a criança que busca refúgio em um mundo imaginário. Começo a tecer tramas que espero que se tornem realidade. Começo a ver carinho em palavras comuns, ternura em gestos corriqueiros e vou caminhando pra algo que nunca deu certo comigo, o amor. No fundo tenho a esperança de que pode ser dessa vez. Que finalmente vão enxergar a pessoa que eu sei que tem aqui dentro e que quase ninguem vê. Penso que posso ser querido e amado, ainda que o pessimismo me diga que isso é impossível, e que alguém que está por aí vai me abraçar pra ajudar a suportar as coisas terríveis que estão por vir.
Ao mesmo tempo, por nunca ter me sentido amado, contraditoriamente eu penso que amar dói, e que acho que é algo para o qual não estou preparado. Acho que só eu que vejo o potencial que tenho e que, por mais que tente, ninguém nunca vai me ver desse modo. No fim das contas estarei aqui, sentado no chão do meu quarto, falando sozinho...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre a perfeição

Fomos criados pra não errar. Desde pequenos somos ensinados a fazer o certo e recompensados por isso. São presentes no Natal para os bonzinhos, nota 10 na escola para os inteligentes, pirulitos pra quem não tem medo do médico e por aí vai. não há problema nenhum em se recompensar o que é certo.
O problema é que em alguns casos, o que é certo pra uns pode não ser certo pra outros. E assim surgem os julgamentos, que começam antes que você perceba. Ao conhecer uma pessoa, inevitavelmente a medimos, observamos seus movimentos, seu modo de falar, de vestir e até de andar. Caso se perceba algo diferente, dizemos que a pessoa está errada e logo ela é colocada em um grupo à parte.
Há pessoas que "erram" e  procuram se adequar para acertar, mas nem todos os mestres tem paciência. Alguns ensinam, outros castigam, outros botam pra fora da sala. 
Tenho muito medo de errar, medo de ser apontado e colocado pra fora da sala, ser um inadequado para a sociedade. Sei que posso fazer as coisas certas, mas pra isso é preciso felxibilidade, paciência e sobretudo paciência pra ensinar. Estou disposto a aprender e a começar a acertar, cada vez mais. Quem sabe um dia eu tiro um 10.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Adeus, pequeno Rei

Hoje eu perdi um pouco o chão quando sou be que meu ex-aluno, que devia estar com uns 14 anos, resolveu nos deixar.
O mundo perde hoje um menino inteligentíssimo que era ótimo karateca, que adorava aprender e que achava bonito fazer mágicas. Que gostava de brincar e tinha nos olhos a inocência que hoje em dia é tão rara nas crianças. Não tenho palavras pra descrever o quanto essa criaturinha me marcou. O quanto ele e os outros meninos da sua turminha me marcaram e me fizeram ver que o que eu queria, de verdade, era ser professor.
Obrigado, Arturzinho. Que tenha aprendido na mesma poporção que me ensinou... Que ensine aos anjos o que é ser doce...
Sempre vou ouvir sua risada ao imitar o meu sotaque fajuto, chamando-o de "King Arthur!"

terça-feira, 8 de março de 2011

Através do Universo

Estou aqui agora, no quarto onde passei uma boa parte da minha vida, quase a metade dela pra ser mais exato. Aqui eu tive sonhos e pesadelos, vivi experiências boas e traumáticas. Experimentei o prazer, a dor e a violência. Tudo entre essas quatro paredes que de azuis, na minha infância, agora são amarelas com um ou outro pernilongo esmagado contrastando com a cor que se esvai com o tempo.
Mais uma vez me deito  nesse meu berço, em um período crucial onde se inicia um novo ciclo, uma nova etapa. Tenho a sensação de que precisava estar aqui. Precisava estar nesse meu berço de tantas coisas para que pudesse me lembrar  que, aconteça o que acontecer, é preciso continuar. É preciso seguir em frete, com afinco, fazendo de cada pedra um degrau, cada tropeço um impulso à frente, sem se esquecer que sempre, ladeando a estrada, há os amigos a quem posso recorrer!
Saindo desse quarto, o mundo me espera lá fora. O sol a brilhar no céu azul, tudo muito lindo, assim como eu. Sendo assim, dear Charlie, won’t  you come out to play?
Dear Charlie, greet the brand new Day!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sobre as aparências

Maria de Fátima era diferente das outras meninas da escola. Era feia, era branca do cabelo ruim, era dentuça e tinha costeletas longas que meio que pareciam uma barba. As meninas da escola que andavam comigo riam dela. Era pouco inteligente, chamada de burra pelos colegas de classe e também por algumas professoras. Às vezes, na hora do recreio, risinhos sarcásticos e dedos apontados pra ela a faziam encolher-se e sentar-se num cantinho.  Ao contrário dos outros alunos que usavam a camiseta da escola, ou roupas bonitas nas cores permitidas pela direção, Maria de Fátima usava uma saia que parecia um avental (eu chamava de jardineira) e uma camisa social branca. Apesar de já estarmos no ginásio, esse era o uniforme do grupo, e dava pra notar pelas marcas da bainha refeita e pelas pences abertas nas costas que Maria de Fátima já usava essa roupa fazia anos. Eu não me aproximava dela, apenas a olhava de longe. Me sentia sem-graça quando alguem que estava perto de mim ria da menina feia e às vezes esboçava uma risadinha, mas por dentro meu coração se apertava. Eu sabia quem era Maria de Fátima e parece que ela também sabia quem eu era.
Um dia, a mãe não me deu dinheiro pro lanche. Era bobeira ter que comer na escola,  afinal em quatro horas estaria de volta em casa pra almoçar e um pedaço de bolo bastava, ou uma banana, que eu comia escondido quando levava porque era fruta barata, não era maçã que nem dos outros. Mas nesse dia de fome, nem banana, nem bolo, nem nada. Sentei-me num cantinho do pátio e lá veio ela. Fiquei com medo, pois andava com os meninos e meninas que riam dela, e lembro de ter feito isso uma ou duas vezes. Ela chegou perto e segurava um pão com manteiga embrulhado num pano. Dividiu no meio com as mãos, olhou pra mim e disse:
_Toma, come comigo! Eu sei que você está com fome.
Aceitei e comi, ela sentou-se do meu lado e começamos a conversar. Maria de Fátima tinha uma voz linda e sabia de muitas coisas legais. Ela sorria e seus dentões brilhavam, sorrindo junto! Agradeci e pedi pra ela me esperar na hora de ir embora.
A aula acabou. Saí da sala junto com ela e os outros me olharam esquisito. Mudei o caminho pra conversar mais com ela e pegava o ônibus já cheio, sem lugar pra sentar. Mas aprendi com Maria de Fátima que aparências valem menos que gestos e que a beleza vem junto com a generosidade. Desde então eu  soube que, sendo rico ou pobre, usando roupa boa ou uniforme, comendo banana ou maçã, o que importa é o que você é por dentro. E agradeço a você, Maria de Fátima, por ser essa pessoa linda e por me dar essa lição que carrego até hoje e que agora passo adiante. Há muita gente precisando te conhecer!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mais sobre os sonhos

Tem gente que não consegue se lembrar de sonhos. Eu não consigo esquecê-los. Já tive de todos os tipos. Tive aqueles em que eu caía do precipício, outros em que eu corria num campo pra abraçar Jesus e es se transformava no cramunhão quando eu pulava no colo dele. Tive sonhos daqueles de acordar fazendo xixi na cama, outros em que estava sem sapatos na escola. Estranho como a maioria desses sonhos que estou citando aqui aconteceram com muita gente. Eu super jurava que eram sonhos só meus e de mais ninguém. Porém sempre que eu os conto, tem alguém que já sonhou algo parecido.
Mas há ainda um outro tipo de sonho que tenho sempre que é muito bizarro e esse, creio eu que não seja tão comum. Às vezes eu sonho que me aconteceu uma coisa muito boa, que eu estava esperando muito. Dia desses eu estava precisando de grana e sonhei que tinha achado 100 reais e escondi o dinheiro debaixo do travesseiro. Quando acordei de manhã, fui todo "cheio de si" pegar a minha mufunfa e cadê? Tinha ficado no sonho, mesmo. Não havia resquício nenhum de que o dinheiro havia estado ali. E esses dias eu sonhei que estava longe de todos os meus problemas e que os amigos que eu mais amo estavam junto comigo o tempo todo. Pra onde quer que eu olhasse, tinha alguém pronto pra me dar um abraço, me dizer uma palavra de afeto... Daí eu acordei, e vi que esse sonho é a mais pura realidade!


P.S.: Dedico esse post a todos os meus amigos, sejam os que estão perto ou os que estão longe, e também às pessoas que sempre passam por aqui e me deixam um recadinho carinhoso. É minha forma de dizer obrigado!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Pombo Novo

Sempre me identifiquei com pássaros. Quando pequeno, tinha um pintassilgo lá em casa que a mãe dizia que era meu. Constumava ficar horas sentado perto da gaiola, olhando ele cantar. Como sabem, morei no interior de Minas Gerais até os meus 16 anos e passarinho lá nunca faltou. Chegava a época do verão e eram revoadas de andorinhas, voando rápido e bailando em curas aéreas que faziam eu e meu primo, o Nêgo, corrermos atrás delas como bobos imitando suas curvas pelos pastos, onde eventualmente por estarmos distraídos pisávamos em alguma bosta de vaca. Havia também as maritacas, que a mãe mandava a gente enxotar porque, além de piarem  desesperadamente, elas atacavam o pomar deixando só as capotas das frutas. Eram uma festa de aves pra onde quer que se olhava. Era sabiá, canário da terra, juriti, passo preto... Fora o papagaio brigão de quem eu já falei aqui.
Uma vez, creio que estava na sétima série, eu li um poema que, se não me engano, se chamava "Iniciação". Era um poeminha pequeno, falando de um pombo novo. Era uma coisa simplesm, mas de uma beleza singela que me marcou e eu me lembro dele  até hoje. Não faz muito tempo, o Evandro Breal me ensinou que aquilo era um haicai, que descobri no google ser da curitibana Helena Kolody e acho que dentre todos esses, foi esse pássaro que eu nunca vi que mais me marcou. Eis o tal, que não sei se reproduzi de forma correta, mas era mais ou menos assim:

Iniciação...

Do beiral, o pombo novo 
prescruta o horizonte.
A liberdade assusta o seu dom recente de alar-se.

Helena Kolody