Meu avô fumava cigarro de palha, que ele chamava de "continempaia" em alusão ao cigarro "continental" que era popular na época por ser um dos poucos que se econtrava nas vendinhas próximas ao sítio. De manhã ele fazia o ritual de preparação dos cigarros que fumaria durante o dia. Ia até o paiol e procurava uma espiga de milho bem bonita, com a palha grande e lisa. Tirava umas palhas e recortava as pontas com seu canivete de cabo de osso até elas ficarem todas em um formato retangular pra enrolar o cigarro. Depois ia até o quartinho onde guardava o fumo de corda e tirava umas lascas que depois desfiava e punha pra secar na chapa do fogão à lenha, enfurecendo minha avó:
_ Deixa de ser porco, Tião! Tô fazendo o café e tu vem com essa porcaria catinguenta pra cá!
_ Não me amola, mulher! Deixa eu secar meu fumo! Eu, hein?
Depois de ouvir a ladainha e restrucar coisas que eu não decifrava, e nem a minha avó, sob pena de uns respingos de água quente no lombo ele retirava o fumo, sequinho e desfiado. Sentava no alpendre e enrolava uns 5 ou 6 cigarros bem substanciosos que depois ficariam na janela da cozinha. Quando dava vontade de fumar ele passava por lá e pegava um. Sentava embaixo de alguma árvore ou na beira de um barranco e soltava longas baforadas de uma fumaça azul, que saía pelo canto da boca bailando no ar como uma serpente desengonçada.
Um dia, chamei o Nêgo, meu primo e cúmplice, e tive a brilhante idéia de furtar um cigarro. Eu tinha 7 anos e o Nêgo já tinha quase 9. Como o cigarro era grande, achamos melhor dividirmos um só. Pegamos o dito cujo e mais um tição no fogão e corremos para a horta, num lugar onde a fumaça não seria vista e poderíamos fumar à vontade. As primeiras baforadas vieram seguidas de um gosto sêco, e trouxeram uma tosse interminável. Mas não podíamos desistir. Mais uma tentativa e conseguimos dar uma bela tragada e soltamos a fumaça aos poucos, que nem o velho. Mais duas dessas e começamos a ouvir um zumbido. As árvore sao redor começaram a correr em círculos à nossa volta, achamos q era por isso que o vovô fumava sentado. Sentamos também, mas o enjoo não parava o céu foi ficando esquisito, parecia que ia cair e engolir a gente. O café da manhã recusou-se a ficar no estômago.
_ Nêgo- chamei por meu primo. Me dá a mão que eu vou morrer!
Fechei os olhos e acordei umas duas horas depois com a mãe chamando pra almoçar. Levantei com dificuldade e o Nêgo ainda estava ali do lado. Levantamos ainda meio cambaleantes e fomos pra casa. O almoço pareceu pesado demais, não conseguimos comer. Depois fomos pro nosso quarto, discutir a experiência.
_Que coisa esquisita! Tu ainda tá zonzo, Nêgo?
_Eu tô, amanha a gente fuma a outra metade!
16 comentários:
hahahahaha
mas geeente, que palha era essa? ainda bem que minha primeira experiência com cigarro foi com um comum mesmo, mas tragar nunca consegui, abstrato demais pra mim!!
bjss
sempre escrevendo bem...
amei o post charlie...
mto bom! =P
como sempre!
bjosss
sempre escrevendo bem...
amei o post charlie...
mto bom! =P
como sempre!
bjosss
Acho incrível como Charlie consegue descrever tão bem acontecimentos!
Comentando ... GENTE! Que palha era essa? Era erva?
Eu não sei fumar até hoje! Já tentei tragar, mas nem consigo ;/
que memória de elefante!
Minha cabeça tá desse jeito hoje.
Meu vô também fazia isso na cidade que ele morava, igualzinho.
HAHAHHAHAHAAHA Ri muito!
Melhor é q que vc disse pro seu primo que ia morrer e ele continuou lá!
Bjo Charlie!
e com a pinga, como que foi a primeira experiencia?
aloka
te amo coisa caipira!
bjo!
charlie adorei esse post
acho que é meu preferido
muito gostoso o clima bucolico que vc trouxe a tona nesse texto
e o nego retrata bem o brasileiro 'nao desisto nunca'.
hahahahahaha
adoro suas histórias, sempre venho aqui ler...é uma lição de vida atrás de outra. parabéns?
beijo
kkkkkk
cê tem certeza que era só fumo e palha que tinha nesse cigarro?
rsrs.
Parabéns pelo blog Charlie. Tens o dom da palavra mesmo!
Ah, eu enrolei muitos cigarros para o meu bisavô, rs.
Parabéns pelo blog Charlie. Tens o dom da palavra mesmo!
Ah, eu enrolei muitos cigarros para o meu bisavô, rs.
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