domingo, 4 de agosto de 2013

Sobre a vida

À medida que o tempo vai passando, eu sinto o meu maior medo se tornando realidade. Sinto caminhar para o inevitável e encontrar o meu destino, que é terminar sozinho. Ao mesmo tempo eu acho que essa é a minha missão. Eu tenho que aprender a viver sozinho. É como se eu carregasse uma maldição ou uma sina mesmo, sei lá.
Primeiro foi o abandono do meu pai. Não sei nem se ele chegou a ver minha cara ou se um dia me tocou. O fato é que ele não me quis. Depois, eu cresci uma criança basicamente sozinha. Não podia ir brincar na casa dos outros e quase ninguém podia ir à minha casa. Eu era praticamente autista. Me lembro que eu sentava no meio do milharal e conversava com as espigas de milho como se elas fossem pessoas. chegava a ficar horas nesse mundo, cercado de pessoas loiras vestidas de verde que me entendiam e me faziam companhia. Como adolescente, tirando o último ano que eu passei praticamente vivendo em Correia de Almeida, eu habitava praticamente o fundo de qualquer cômodo existente. Era o fundo do quarto, o fundo da sala de aula, até pra andar de ônibus eu me colocava no fundo. Vim para São Paulo e ficava dias sozinho em minha casa, sem ninguém perceber se eu estava lá ou não. Chegava inventar coisas mirabolantes para me distrair e fazer passar o tempo. Quando eu não tinha mais ideias malucas, eu pegava um ônibus e ia rodando a cidade toda escutando música no meu discman, de terminal em terminal só pra ver gente diferente. Lembro de um dia que fui de Santo Amaro à Cidade Tiradentes.
Aí vocês podem dizer que hoje eu tenho amigos, que eles nunca me deixarão sozinhos e tal. Bom, de fato eu tenho amigos maravilhosos, que me acolhem, que me fazem sentir parte de algo maior que a minha pequenez. Mas ainda assim cada um tem a sua vida, sua família, seus momentos. E vai haver o dia, como já aconteceu muitas vezes, que eu vou ter que me trancar no meu quarto e lidar sozinho com os meus demônios.
Ah, mas e o amor? Bom, nesse eu acabo de perder totalmente as esperanças, chego a duvidar da sua existência. Pelo menos pra mim, nunca funcionou. As coisas sempre acabam por motivos justos ou por motivos inexplicáveis, quiçá inventados.
Bom, já que descobrir que minha vida é isso mesmo, queria poder fechar os olhos e adiantar o meu relógio. Queria chegar logo no fim, porque as aulas estão sendo muito sofridas na minha escola da vida! Queria poder passar adiantado...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sobre o meu sonho

Estava no alto de um morro, de onde se via a praia lotada. Era uma festa, como se fosse a virada do ano.  Lá de cima dava pra ver as luzes todas da festa e o som alto fazia com que a gente dançasse. Embora só estivéssemos nós ali, eu e meus primos Júnior e Marcelo, nós controlávamos toda a festa. Eu animava com um microfone e meu primo colocava a música. Gritei ao microfone "O que vocês querem ouvir?" e a multidão enlouquecida respondeu "Kelly Key"! A cantora entrou e descemos para ir até o pé do morro onde a festa estava acontecendo. Era um caminho sinuoso com árvores em toda a volta. 
Chegando lá embaixo, em vez de ficar já com a multidão que dançava ao som de "Baba Baby", decidimos caminhar pela orla. Nessa hora, as pessoas ricas que passeavam de lancha, davam cavalinhos de pau pra jogar água na gente, como fazem esses filhos da puta de carro no ponto do ônibus em dia de chuva. Havia ali um casal gay que passeava com seu cachorro e observava a gente praguejando enquanto as lanchas nos molhavam. Eu era o mais indignado e dizia palavrões impublicáveis. Decidimos sair dali.
Indo para onde estava acontecendo a festa, achamos um vira-latas pardo, preso a uma corrente e decidimos soltar o bichinho. Júnior, por ser o mais alto e mais forte dos primos o fez. O cachorro sumiu e de repente, nosso tio Paulinho, pai do Marcelo, se aproximou pedindo dinheiro. Ele era um anão e tinha quatro dentes visíveis na boca. Fiquei com dó e o peguei no colo, como se fosse um bebê. Marcelo relutava em dar os 7 reais que tinha para o pai, dizendo que ele usaria o dinheiro para comprar cachaça, mas Júnior, que até no sonho tem o coração de ouro, o convenceu a dar o dinheiro. Nessa hora olhamos para o lado e vimos a entrada da área de alimentação da festa. Havia uma barraquinha vendendo três cachorros-quentes e uma latinha de refrigerante por R$1,99. Meu tio desceu do meu colo e correu para a tal da barraca. Como estava muito barato e eu amo cachorro quente, eu decidi ir até lá com os meninos, mas uma mulher, que estava perto da barraca me puxou pelo  braço. Era minha mãe. Ela não dizia nada, só me olhava. Dei um beijo em seu roso e ela continuou lá, imóvel, seu olhar era de orgulho e de admiração, mas ela não dizia nada, apenas me olhava. Acordei.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sobre a Bahia

Sempre ouvi dizer que quando você está prestes a morrer, se passa um filme da sua vida diante de seus olhos. Até aí tá tudo sussa, porque como você já vai morrer mesmo, o que vier vai ser fácil de aguentar. O problema é quando esse filme se passa e você não está no seu leito de morte. Acabei de ver um filme que, apesar de ser aparentemente uma história de ficção, me fez lembrar de uma parte da minha vida que eu achei que tinha esquecido. Achei que não ia mais ter que lidar com todas essas lembranças depois de tanto tempo, estando tão longe de tudo o que aconteceu. Achei que eu tinha deixado tudo lá onde pra trás, onde as coisas aconteceram. Os abusos, os dramas, a vontade de que um dia eu acordasse em um lugar diferente e nada daquilo estivesse lá. 
Me lembro que a minha vontade era acordar um dia, roubar todo o dinheiro que tinha em casa e entrar no primeiro ônibus que passasse e fosse para a Bahia, porque tinha na minha cabeça que era a terra da felicidade, onde ninguém sofria e não havia problemas. Ninguém apanhava e ninguém era abusado lá. Era só festa, era música e alegria. Mas estou longe de ir para esse lugar, se é que ele existe. Meu filme me lembrou que a minha história é essa mesma, que tenho que lidar com ela e encontrar esse lugar aqui dentro mesmo, seja onde eu estiver. 
Há muita coisa errada ainda, muita coisa que tenho que tenho que dar um jeito de resolver, de tirar aqui de dentro para que eu possa ter a vida que eu mereço, ou que eu acho que eu mereço. Vou poder sair sem medo e colocar meu bloco e meu sorriso na rua, na Bahia.