tag:blogger.com,1999:blog-58595335499316888622024-03-14T07:58:12.628-07:00.::meu jeitão::.porque eu sou assim, eu vou falando!Charlie Liuhttp://www.blogger.com/profile/06047781635353777988noreply@blogger.comBlogger97125tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-34430029599093442302016-02-02T06:12:00.000-08:002016-02-02T15:28:49.058-08:00That I would be good even when I am overwhelmed<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Sabe
a sensação de que você sempre está fazendo algo de errado? Quando nunca ninguém
está contente com as coisas que você faz? Eu sei! Eu sinto isso a minha vida
toda. Minha vida tem sido uma luta exaustiva pra mostrar para as pessoas o que
elas querem ver. Não sei se em algum momento eu me coloquei nessa posição, mas
o fato é que a todo momento tem alguém me cobrando algo.</span> Quando eu era
criança, o que eu mais ouvia era: "Você tem que ser o melhor da
turma!" e eu era o melhor da turma, fazia de tudo pra ter boas notas.
Fazia de tudo pra cumprir com minhas obrigações de casa, ainda que eu odiasse
ter que trabalhar enquanto o que eu queria era brincar o dia inteiro como os
filhos dos vizinhos. Eu tinha que comer tudo e comer na hora. Por incontáveis
vezes eu ficava de castigo na mesa da cozinha, comendo por obrigação. Eu não
estava com fome, mas tinha que comer tudo o que colocavam no meu prato, ou não
poderia me levantar dali. Meu tio, quando bebia, me chamava e me colocava
sentado na frente dele e me fazia ficar escutando ele falar a mesma coisa, por
horas a fio. Eu não queria ir, mas tinha que ir porque ele era meu tio, mais
velho e mandava em mim. Eu não podia desenhar porque era coisa de vagabundo. Eu
não podia ler gibis, porque era coisa que não prestava. Eu escondia revistinhas
da Turma da Mônica e da Xuxa como adolescentes escondem drogas dos pais. Quando
meus esconderijos eram descobertos, eu achava resquícios delas no fogão a lenha
e chorava, fazia isso escondido para não apanhar por chorar à toa.<br />
Fui crescendo, mudei de escola e fui colocado em
uma escola "boa", contra a minha vontade. Eu odiava aquele lugar.
Continuava a cobrança para ser o melhor e eu não queria aquilo pra mim. Comecei
a vagabundear, me permitindo tirar notas ruins nas matérias que eu não gostava.
Consegui só algumas belas surras, chegando a ter que ir para a escolha com o
olho roxo depois de uma delas e inventar uma queda da bicicleta pra justificar
aquilo. Quem lê o meu blog já sabe que essa fase durou até eu vir parar em São
Paulo.<br />
Achei que em São Paulo, morando com minha mãe, as
coisas iam ser diferentes. Mas eu já era quase um adulto. Fui fazer um curso
que eu não queria, porque eu tinha que fazer algo que fosse útil e desse
dinheiro e acabei novamente impelido a fazer uma série de cagadas na tentativa
de fugir daquela situação.<br />
O que vem a ser tudo isso? Por que eu estou com
essas coisas na minha cabeça? Porque eu percebi que mesmo sendo cobrado e
guiado pelos outros a vida toda, eu nunca tive de fato aquele momento em que eu
dissesse um "Ei! Peraí! Não é isso que eu quero!". Apesar de me
sentir desconfortável em inúmeras situações, eu tenho medo de desagradar às
pessoas. Não sei falar não e quando eu tento fazê-lo, sempre sou persuadido a
dizer um sim. Sei que estou sendo fraco e permissivo, mas eu não sei lidar com
a frustração alheia. Se um amigo me pede um favor e eu não faço porque eu
não quero, eu me sinto ingrato, me sinto mal. Mas poucas vezes eu percebo as
pessoas perguntando o que eu quero. Ninguém quer saber o que eu quero fazer, o
que eu quero da minha vida. Um exemplo bem simples disso é a escolha do lugar
onde comemorar o meu aniversário. Tal lugar é ruim, não gosto de Karaokê, esse
lugar é longe, o outro é caro ou é barato demais. Todo mundo tem uma opinião a respeito
de algo e eu acho que cabe a mim ser a parte flexível.<br />
Então resolvi a escrever esse post para que vocês,
pessoas que convivem comigo, saibam que mesmo quando eu digo sim, às vezes eu
quero dizer não. E acho que não precisaria explicar muito essas coisas se vocês
prestassem tanta atenção em mim quanto eu presto atenção em vocês. Me ajudem a tirar das
costas esse peso de agradar a todo mundo todo o tempo. Eu estou ficando exausto
e me tornando uma pessoa reclusa por não achar a minha voz. Me deixem um pouco
mais livre pra fazer minhas escolhas, pra gostar das coisas que eu gosto e
fazer o que eu quero. Eu estou caminhando para o fim da vida e ainda
não me descobri, porque o tempo todo eu penso nas pessoas ao meu redor e me esqueço
de parar pra pensar em mim. E quanto mais o tempo passa, mais difícil isso está
ficando e eu estou vendo que estou prestes a explodir. Sejam mais gentis
comigo, procurem prestar atenção em mim um pouquinho e me ajudem a ser mais
feliz porque eu não tenho dinheiro pra pagar terapia. <o:p></o:p></div>
Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-89641850769639246142015-10-24T08:40:00.001-07:002015-10-24T08:40:56.631-07:00Sobre a Harmônica<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ela tinha seu
lugar de destaque no quarto do vô. A harmônica era a única coisa que amolecia o
coração do velho. Ali, em cima do
cabideiro, em uma maleta grande e preta, sua Todeschinni de 80 baixos era
guardada como uma joia. Ninguém tinha permissão para triscar a mão nela, reinava
soberana entra as outras quinquilharias acumuladas nos seus muitos anos de
vida. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Seu Sebastião
Camilo era um homem negro e rígido como a maleta de sua sanfona. Neto de
escravos, sempre trabalhou muito duro pra conquistar tudo o que tinha e dar uma
vida melhor para seus filhos, mesmo que o melhor que pudesse fazer estivesse
muito aquém do ideal. Trabalhava de sola a sol, de domingo a domingo e só se
permitia descansar quando, no domingo à tarde sentava-se no alpendre com a companheira
e o Velho Barreiro aos pés do banco. A cada trago, solfejava uma canção. Vida
Amargurada de Tião Carreiro e Pardinho era sua favorita. A mãe não gostava
muito porque achava que ele cantava pra outra mulher.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Embora ele não
falasse muito comigo, eu o admirava. Queria ser forte e conhecido como ele era,
queria ser tão sabido e tão esperto quanto ele. Mas o gosto pela música era a
única coisa que tínhamos em comum. Eu e o Nêgo sentávamos perto e ficávamos
ouvindo aquele cantarolar tímido, quase inaudível enquanto a acordeom o envolvia
e tomava conta do terreiro, alcançando a vizinhança com seu maravilhoso
firinfonfon. Era um dos únicos momentos em que aquele homem sisudo e de poucas
palavras se aproximava da gente. Fazia a gente rir quando já estava bêbado e
errava a letra das músicas. Não gostava muito quando a gente ria e dava bronca,
mas não parava.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O vô se foi, mas
a harmônica está lá. Ninguém nunca aprendeu a tocá-la, então ela fica lá muda. Já
não reina mais, porém tem seu prestígio. Espero que a essa altura não tenha esquecido
como cantar. Acho que ela ainda espera que ele volte e a leve na vendinha pra
tomar um pingão.</div>
Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-57804721040894201042013-08-04T06:45:00.000-07:002013-08-04T07:08:35.261-07:00Sobre a vidaÀ medida que o tempo vai passando, eu sinto o meu maior medo se tornando realidade. Sinto caminhar para o inevitável e encontrar o meu destino, que é terminar sozinho. Ao mesmo tempo eu acho que essa é a minha missão. Eu tenho que aprender a viver sozinho. É como se eu carregasse uma maldição ou uma sina mesmo, sei lá.<br />
Primeiro foi o abandono do meu pai. Não sei nem se ele chegou a ver minha cara ou se um dia me tocou. O fato é que ele não me quis. Depois, eu cresci uma criança basicamente sozinha. Não podia ir brincar na casa dos outros e quase ninguém podia ir à minha casa. Eu era praticamente autista. Me lembro que eu sentava no meio do milharal e conversava com as espigas de milho como se elas fossem pessoas. chegava a ficar horas nesse mundo, cercado de pessoas loiras vestidas de verde que me entendiam e me faziam companhia. Como adolescente, tirando o último ano que eu passei praticamente vivendo em Correia de Almeida, eu habitava praticamente o fundo de qualquer cômodo existente. Era o fundo do quarto, o fundo da sala de aula, até pra andar de ônibus eu me colocava no fundo. Vim para São Paulo e ficava dias sozinho em minha casa, sem ninguém perceber se eu estava lá ou não. Chegava inventar coisas mirabolantes para me distrair e fazer passar o tempo. Quando eu não tinha mais ideias malucas, eu pegava um ônibus e ia rodando a cidade toda escutando música no meu discman, de terminal em terminal só pra ver gente diferente. Lembro de um dia que fui de Santo Amaro à Cidade Tiradentes.<br />
Aí vocês podem dizer que hoje eu tenho amigos, que eles nunca me deixarão sozinhos e tal. Bom, de fato eu tenho amigos maravilhosos, que me acolhem, que me fazem sentir parte de algo maior que a minha pequenez. Mas ainda assim cada um tem a sua vida, sua família, seus momentos. E vai haver o dia, como já aconteceu muitas vezes, que eu vou ter que me trancar no meu quarto e lidar sozinho com os meus demônios.<br />
Ah, mas e o amor? Bom, nesse eu acabo de perder totalmente as esperanças, chego a duvidar da sua existência. Pelo menos pra mim, nunca funcionou. As coisas sempre acabam por motivos justos ou por motivos inexplicáveis, quiçá inventados.<br />
Bom, já que descobrir que minha vida é isso mesmo, queria poder fechar os olhos e adiantar o meu relógio. Queria chegar logo no fim, porque as aulas estão sendo muito sofridas na minha escola da vida! Queria poder passar adiantado...Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-17706934781940623392013-02-01T23:21:00.002-08:002013-02-02T02:38:19.757-08:00Sobre o meu sonho<div style="text-align: justify;">
Estava no alto de um morro, de onde se via a praia lotada. Era uma festa, como se fosse a virada do ano. Lá de cima dava pra ver as luzes todas da festa e o som alto fazia com que a gente dançasse. Embora só estivéssemos nós ali, eu e meus primos Júnior e Marcelo, nós controlávamos toda a festa. Eu animava com um microfone e meu primo colocava a música. Gritei ao microfone "O que vocês querem ouvir?" e a multidão enlouquecida respondeu "Kelly Key"! A cantora entrou e descemos para ir até o pé do morro onde a festa estava acontecendo. Era um caminho sinuoso com árvores em toda a volta. </div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Chegando lá embaixo, em vez de ficar já com a multidão que dançava ao som de "Baba Baby", decidimos caminhar pela orla. Nessa hora, as pessoas ricas que passeavam de lancha, davam cavalinhos de pau pra jogar água na gente, como fazem esses filhos da puta de carro no ponto do ônibus em dia de chuva. Havia ali um casal gay que passeava com seu cachorro e observava a gente praguejando enquanto as lanchas nos molhavam. Eu era o mais indignado e dizia palavrões impublicáveis. Decidimos sair dali.</div>
<div style="text-align: justify;">
Indo para onde estava acontecendo a festa, achamos um vira-latas pardo, preso a uma corrente e decidimos soltar o bichinho. Júnior, por ser o mais alto e mais forte dos primos o fez. O cachorro sumiu e de repente, nosso tio Paulinho, pai do Marcelo, se aproximou pedindo dinheiro. Ele era um anão e tinha quatro dentes visíveis na boca. Fiquei com dó e o peguei no colo, como se fosse um bebê. Marcelo relutava em dar os 7 reais que tinha para o pai, dizendo que ele usaria o dinheiro para comprar cachaça, mas Júnior, que até no sonho tem o coração de ouro, o convenceu a dar o dinheiro. Nessa hora olhamos para o lado e vimos a entrada da área de alimentação da festa. Havia uma barraquinha vendendo três cachorros-quentes e uma latinha de refrigerante por R$1,99. Meu tio desceu do meu colo e correu para a tal da barraca. Como estava muito barato e eu amo cachorro quente, eu decidi ir até lá com os meninos, mas uma mulher, que estava perto da barraca me puxou pelo braço. Era minha mãe. Ela não dizia nada, só me olhava. Dei um beijo em seu roso e ela continuou lá, imóvel, seu olhar era de orgulho e de admiração, mas ela não dizia nada, apenas me olhava. Acordei.</div>
</div>
Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-4846523921783393612013-01-14T20:33:00.003-08:002013-01-14T20:33:47.907-08:00Sobre a Bahia<div style="text-align: justify;">
Sempre ouvi dizer que quando você está prestes a morrer, se passa um filme da sua vida diante de seus olhos. Até aí tá tudo sussa, porque como você já vai morrer mesmo, o que vier vai ser fácil de aguentar. O problema é quando esse filme se passa e você não está no seu leito de morte. Acabei de ver um filme que, apesar de ser aparentemente uma história de ficção, me fez lembrar de uma parte da minha vida que eu achei que tinha esquecido. Achei que não ia mais ter que lidar com todas essas lembranças depois de tanto tempo, estando tão longe de tudo o que aconteceu. Achei que eu tinha deixado tudo lá onde pra trás, onde as coisas aconteceram. Os abusos, os dramas, a vontade de que um dia eu acordasse em um lugar diferente e nada daquilo estivesse lá. </div>
<div style="text-align: justify;">
Me lembro que a minha vontade era acordar um dia, roubar todo o dinheiro que tinha em casa e entrar no primeiro ônibus que passasse e fosse para a Bahia, porque tinha na minha cabeça que era a terra da felicidade, onde ninguém sofria e não havia problemas. Ninguém apanhava e ninguém era abusado lá. Era só festa, era música e alegria. Mas estou longe de ir para esse lugar, se é que ele existe. Meu filme me lembrou que a minha história é essa mesma, que tenho que lidar com ela e encontrar esse lugar aqui dentro mesmo, seja onde eu estiver. </div>
<div style="text-align: justify;">
Há muita coisa errada ainda, muita coisa que tenho que tenho que dar um jeito de resolver, de tirar aqui de dentro para que eu possa ter a vida que eu mereço, ou que eu acho que eu mereço. Vou poder sair sem medo e colocar meu bloco e meu sorriso na rua, na Bahia.</div>
Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-32120071259266666422012-09-16T11:49:00.003-07:002012-09-16T11:49:29.031-07:00Sobre o ódio<br />
<div style="text-align: justify;">
Hoje era pra ser um domingo normal, mas não está sendo. Quem está em São Paulo sabe que está um calor infernal. Eu e Johan levantamos cedo, tomamos café e fomos ao museu de insetos do Instituto Biológico lá na Vila Mariana. A temperatura já devia estar passando da casa dos 30 graus e eram ainda 11 da manhã. Comecei a me sentir mal. Paramos pra almoçar e decidimos ir ao IMAX Bourbon mais tarde. Depois do almoço, fomos direto comprar os ingressos pra garantir bons lugares. Nesse meio tempo parei umas 3 ou 4 vezes em lugares diferentes pra ir ao banheiro e levar o rosto, já me sentindo sem forças e com sintomas de uma leve desidratação. Compramos os ingressos e fomos para o ponto do ônibus ali na frente do Bourbon mesmo pra pegarmos um ônibus que fosse até a Barra Funda de onde viríamos para casa. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ao chegar no ponto, a ponto de desmaiar de calor, me sentei e comecei a ler a programação de cinema para o mês quando ouço uma senhora falar para outra que estava de pé e eu não tinha visto:</div>
<div style="text-align: justify;">
_Pode sentar aqui, minha senhora. Esses daí não vão te dar o lugar mesmo. Depois eles exigem respeito.</div>
<div style="text-align: justify;">
A outra mulher sentou-se e, por um momento me senti envergonhado por não ter visto que havia outra senhora em pé, mas eu estava passando mal e entretido com a leitura e o Johan nem sequer notou o que estava acontecendo, por não ser daqui não sabe dos costumes. Logo a senhora que tinha acabado de sentar se levantou e entrou no primeiro ônibus, no que a outra disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
_Vai no primeiro mesmo, né? Tem que ser assim, porque se depender dessa gente...</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu me levantei porque meu ônibus se aproximava, dei o sinal para o motorista parar e disse para ela:</div>
<div style="text-align: justify;">
_A senhora é muito mal educada. Eu não tinha visto que havia mais alguém no ponto, estava lendo. Era só me avisar que eu me levantava e dava o lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
No que ela, com toda a classe de uma elefanta rolando ladeira abaixo disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
_Você é um folgado, fingiu que não estava vendo. Por isso que tem gente que mata essa raça de vocês, bando de viados. Tem mais é que morrer mesmo! Eu adoraria viver em um lugar onde não tivesse que olhar para a cara de gente como vocês, de tanto nojo que sinto!</div>
<div style="text-align: justify;">
Fiquei cego de raiva. Fiz sinal para que o motorista continuasse e voltei para o ponto.</div>
<div style="text-align: justify;">
_O que foi que a senhora disse?- perguntei. Antes que ela respondesse, me veio uma cena à cabeça. No dia 11 de fevereiro de 2009, quando fiz 30 anos, enquanto meu amigo Israel me carregava bêbado no ombro, me levando para casa. Um cara abaixou o vidro do carro e disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
_Vai dar a bunda, hein bichinha?</div>
<div style="text-align: justify;">
Prontamente eu respondi.</div>
<div style="text-align: justify;">
_Que Deus te ouça!</div>
<div style="text-align: justify;">
Esse homem deu a volta com o carro, parou e me deu um tapa no meio da fuça. Meu amigo foi me defender e levou um soco. Peguei o celular pra ligar para a polícia e levei outro no pé do ouvido e meu celular se espatifou. Ele voltou pro carro, pegou uma arma e nos ameaçou, disse que era da polícia federal e que da próxima vez poderia ser muito pior.</div>
<div style="text-align: justify;">
Essa cena toda voltou na minha cabeça hoje. Vi naquela senhora, aparentemente uma mãe de família e uma mulher digna e de respeito, o policial que me agrediu sem motivos. Respondi a ela em alto e bom som:</div>
<div style="text-align: justify;">
_Sinto pena de uma pessoa como a senhora, preconceituosa, suja e desinformada. Por causa de pessoas como você, que milhares de pessoas como eu são agredidas, torturadas e assassinadas todos os dias. Pessoas ignorantes, que não sabem o que um ser humano de valor. Pessoas que arrotam dignidade, mas fedem por dentro. Pessoas que frequentam igrejas e associações e se dizem pessoas de respeito, e saem por aí matando e ferindo com armas e palavras. Eu é que sinto nojo da senhora, uma mulher imunda.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao que ela me responde:</div>
<div style="text-align: justify;">
_Sou de igreja mesmo, mas não sou de associação nenhuma queridinho. Sou do TRIBUNAL DE JUSTIÇA e lá pessoas como você dão trabalho pra nós. Fazem a gente perder o nosso tempo com viadices. Tem que morrer mesmo e livrar o mundo dessa raça maldita.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não vou escrever mais o resto da discussão, porque o negócio ficou feio. A ponto da tal mulher me encostar a mão na cara, ameaçando dar um tapa. Coisa que, caso ela fizesse eu revidasse e esquentasse a lata dela com minha mão, eu seria preso como agressor. As pessoas que passavam pela rua me viam assim, seus olhares davam razão a ela. Era uma bicha contra uma senhora de bem que trabalha no tribunal de justiça.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aí me vem à cabeça que por duas vezes, pessoas que deveriam proteger a população e trabalhar para que eu possa ter meus direitos, me oefenderam e me ameaçaram. E depois, elas contam a sua versão dos fatos com orgulho, se sentindo vitoriosas. Por isso escrevi aqui. Quero que vocês que leram divulguem, para mostrar para as pessoas que ainda existe sim o preconceito, o ódio. E se porventura essa criatura for mãe, parente ou conhecida de um de vocês, meus sentimentos, pois ninguém merece ter na família ou por perto uma pessoa tão horrível e tão sem caráter.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com48tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-932501986383102372012-07-30T19:20:00.002-07:002012-07-30T19:24:05.988-07:00Sobre o tempo<br />
<div style="text-align: justify;">
_ Você não sabe pelo que tenho passado. Você não sabe o que tem acontecido na minha vida.Não tenho tempo pra nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, realmente eu não sei. Não sei porque você não me disse. E olha que eu quis saber. Liguei, chamei pra sair, combinei encontros. Tudo em vão. Sempre havia algo inesperado, um motivo pelo qual você não poderia estar presente. Vou trabalhar amanhã. Vou estar com meus pais. Marquei com outro amigo. Estou cansado demais. Esqueci meu celular no trabalho. </div>
<div style="text-align: justify;">
E o tempo vai passando, as coisas vão acontecendo e cada um vai guardando o que aconteceu para si. Afinal de contas, você é uma pessoa muito ocupada e não tem tempo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu devo ser um mágico, por ter tempo mesmo quando trabalho o dia todo. Por ter tempo quando estou cansado. Eu consigo até ter tempo quando eu não quero. Tenho tempo de estar com meus amigos, de contar meus problemas e ouvir os deles. Tenho tempo de brigar e fazer as pazes no mesmo dia. E, se não tenho tempo, eu seu reconhecer e assumir publicamente a minha displicência.</div>
<div style="text-align: justify;">
Infelizmente, eu não tenho tempo de agradar a todos, porque eu descobri uma coisa nova pra quem eu quero ter tempo agora. Quero ter tempo pra mim. Não, isso não é egoísmo. Porque quando eu passo um tempo com os que eu amo, não importa a merda pela qual eu esteja passando, estou usando esse tempo pra mim. Quando eu passo horas tentando escrever um post meio torto, meio rancoroso, estou usando esse tempo pra tirar de mim as coisas que me fariam mal.Eu faço o meu tempo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu quero estar com você, eu quero fazer parte de sua vida, eu tenho o tempo que for necessário. Mas é muito dividir o seu tempo com alguém. É mais fácil usá-lo sozinho, não se doar. Seja muito ocupado, Entupa-se de coisas pra fazer no seu tempo. Use-o da melhor forma possível. Só não use mais o meu, porque pra você, o que eu fiz questão de dividir com você não foi o bastante. E quanto mais passa, mais eu descubro o quão é precioso. Então, deixe eu usar o meu tempo da melhor forma, jogando ele fora junto com aqueles que não se importam em passar um tempo comigo.</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-88729797708813866452012-07-18T19:30:00.001-07:002012-07-18T19:48:55.176-07:00Sobre o PolacoAcho que foi em 2009. Ele foi lá em casa com o João e ficou quase todo o tempo sentado no sofá. Minhas tentativas de puxar papo não foram bem sucedidas e assim como veio, foi embora. Passa-se um tempo e eu volto de Minas, depois de uma reviravolta gigante na minha vida. Encontro novamente o moleque de pouco papo em uma festa. Bebi demais e não me lembro o que conversamos. Nos encontramos de novo em outras ocasiões e um dia, no meio da bebedeira, acabou o gelo e alguém tinha que descer pra buscar. Fomos eu e ele juntos. Me lembro de um comentário que foi mais ou menos assim:<br />
_ Engraçado, mas eu sinto uma coisa boa quando estou perto de você. Meio que uma tranquilidade, uma paz...<br />
_ Eu meio que sinto isso também!<br />
Desde então nos aproximamos e passamos cada vez mais tempo juntos. Era engraçado, porque ele era totalmente o oposto de mim. Tímido demais, fechado, não sabia abraçar e não gostava de demonstrações de afeto em público.<br />
De repente veio o dia mais difícil da minha vida, quando perdi aquela que era minha mãe, meu ídolo, a pessoa que eu mais amei na minha vida. Eu estava desnorteado, meio anestesiado e não conseguia desabafar, nem chorar e nem nada. Fui com ele pra sua casa, depois de bebermos muito na casa de outro amigo que também estava sendo fundamental nesses dias. Mas foi ao lado dele que eu, não mais que de repente, comecei a chorar. Era um choro compulsivo, como eu nunca havia chorando antes em toda a minha vida, nem quando levava minhas surras na infância. Foi a primeira vez que senti seu abraço de verdade, no começo meio desajeitado, receoso, mas foi se tornando acolhedor, aquecendo minha alma que estava fria e despedaçada pela dor. Ali, naquele momento, eu descobri que eu tinha um amigo que estava do meu lado, que seria fundamental nas horas boas e ruins. Aquele abraço que me tirou a dor, me deu um irmão.<br />
Hoje não sei mais viver sem o Polaco. Alguns o conhecem como André Levinski, mas pra mim vai ser sempre o meu Polaco, meu irmão de alma!Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-77131911363622762502012-04-08T19:50:00.002-07:002012-04-08T19:50:26.638-07:00Sobre o modo de ver as coisas<br />
<div style="text-align: justify;">
Já disse aqui várias vezes que eu apanhei muito quando criança. Era cinta, chinelo, vara de marmelo ou qualquer coisa que estivesse ao alcance da mão. A mãe não era muito criteriosa na hora da raiva.</div>
<div style="text-align: justify;">
_Desgraçada! Tomara que essa mão caia pra tu não ter mais como me bater!- E apanhava mais ainda por ter sido desaforado e rogar uma praga dessas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas essa mesma mão que batia para "disciplinar" era a mão que fazia carinho, que preparava com amor a comida que a gente tinha vontade pra comer quando chegava com fome da escola. Era essa pessoa que batia que fazia o mingau quente e deixava eu dormir com ela nas noites frias, coisa que fiz até os meus treze, quatorze anos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Estou falando tudo isso porque hoje, depois desse feriado de páscoa, pude perceber que embora as coisas não estejam como eu desejaria, eu não tenho do que reclamar. Nesses três dias, estive ao lado de amigos que me amam e querem o meu bem, não importa o quanto às vezes pareçam querer bater com a porta na minha cara. Tenho minha casa pra descansar, com meu quarto e minha cama quentinha. Tenho uma pessoinha muito especial, que me quer como um filho, e por quem tenho um amor de pai, amor que eu sequer conheci.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não é síndrome de Pollyanna, não. É saber que há as dificuldades, há as surras que a vida nos dá. Mas saber também que são elas que fazem com que os carinhos sejam especiais e inesquecíveis. E que, depois de muito tempo achando que a vida não prestava, a gente descobre que é, sim, muito feliz!</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-43924503255802998132011-12-27T23:04:00.000-08:002011-12-27T23:06:26.287-08:00Forever incomplete...Talvez esse seja meu último post do ano. Talvez esse seja meu último post. Eu hoje tomei uma decisão que pra alguns pode ter sido uma coisa idiota, mas que pra mim significou muito. É muito difícil pra mim, uma pessoa mega carente, insegura e o cacete a quatro, se desligar de alguém que eu julgava importante. Porém, tive que fazer isso. Está sendo difícl, está sendo doloroso, mas há coisas que são necessárias. Sabe aquele lance de passar pelos espinhos para colher os morangos mais doces? Eu acredito nisso. E cada vez mais eu tenho passado por todos os espinhos, os mais pontiagudos e firmes, que rasgam a pele e cortam fundo e que vão deixar marcas bem visíveis. Passo por isso tudo esperando chegar a eles mais cedo ou mais tarde, ainda que pensem que jamais os encontrarei em lugar algum. Mas esses tais morangos parecem estar cada vez mais distantes, e seu vermelho se confunde com o sangrar de um sofrimento que uns até julgam desnecessário, mas que eu julgo ser crucial ao meu aprendizado. Talvez eu esteja vivendo na esperança de algo inexistente, talvez eu esteja certo. Não sei, espero chegar a esses tais frutos que, ao colher, não saberei que gosto terão, mas que experimentarei seu gosto, sendo doce ou azedo. Porque foi por eles que eu passei por tudo isso e de forma alguma será em vão.Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-67347764808626191362011-12-06T04:55:00.000-08:002011-12-06T05:16:31.388-08:00Sobre as perdas e danos<div style="text-align: justify;">_ Você tá com uma cara séria, Charlie. Aconteceu alguma coisa?<br />
Foi o que me disse Ana ontem ao chegar em casa e me pegar perdido entre milhares de pensamentos. Minha vontade era sentar e desabafar, mas não achei justo com ela compartilhar minhas fraquezas e tristezas depois de um longo dia de trabalho. Disse que só estava com sono e tentei, em vão, adormecer logo.</div><div style="text-align: justify;">Aconteceu muita coisa esse ano e revendo tudo desde o primeiro dia, pude constatar que foi um ano de muitas e irrecuperáveis perdas. Perdi minha avó, o maior amor da minha vida, perdi a Gabi, perdi minha mãe para seu egoísmo, perdi meu lar, perdi amigos que me acompanharam durante anos dizendo que sempre estariam ao meu lado, perdi também outros recentes que me diziam ser importante. Perdi a fé, perdi a vontade de lutar por meus ideiais, pela minha vida. Me vi em um momento em que estava somente em pé e respirando, sem viver e sem vontade de fazê-lo. </div><div style="text-align: justify;">Tudo isso teria sido insuportável se não fossem amigos que, do seu jeito, sem saber direito como demostrar apoio, amor, me guiaram através dessa escuridão. Ouviram meus choros, seja abraçado no sofá ou seja a quilômetros de distância via telefone, ouviram meus raros momentos de felicidade e se fizeram presentes, ainda que não fisicamente. Mas ainda assim foi e está sendo um ano muito duro.</div><div style="text-align: justify;">Me vejo aqui hoje, impotente, esgotado. Olhando pra trás e ver que minhas conquistas ficaram longe, e estão praticamente invisíveis sobre uma montanha de derrotas. Me entreguei tanto, me doei tanto a vida inteira, que hoje parece que minhas forças se esgotaram. Podem me achar injusto enquanto estou aqui falando sobre as coisas ruins, parecendo dar importância mínima às coisas boas. Mas coisas ruins deixam marcas, algumas mais profundas, outras mais dolorosas. E o que acontece de bom nem sempre é o suficiente pra fazer essa dor passar e essas marcas amenizarem.<br />
Fico aqui machucado, dolorido, com o peito e a alma despedaçados. Fico com os que ainda estão do meu lado, me dando forças pra continuar e me levantar, pra voltar a caminhar de novo em 2012.</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-51973133774652499832011-09-30T06:57:00.000-07:002011-09-30T07:11:52.196-07:00Sobre o perdão<div style="text-align: justify;">Acordei hoje com essa palavra me martelando as ideias: perdão. Pensei em buscar a origem da palavra e tecer teorias sobre o assunto, mas todo mundo sabe que eu não sou assim. Então resolvi falar do perdão do meu jeito mesmo, do meu jeitão.</div><div style="text-align: justify;">A minha avó, a mãe que tanto amei, foi uma das pessoas mais rancorosas que eu conheci na vida. Ficou quase 30 anos sem falar com um irmão, irmão que ela amava, tudo isso por se negar a perdoar. A reconciliação dos dois foi uma das coisas mais bonitas que eu já pude presenciar na minha vida toda. Mas o que me encafifou foi o fato de ter demorado tanto pra eles se perdoarem. Por que tanto tempo se privando um das risadas do outro, das histórias, das lembranças? Seguindo o exemplo da mãe, minha tia Inês é outra mestre na arte do rancor. Daquelas que atravessam a rua pra não ter que passar perto de quem ela não gosta, que prende a respiração pra não ter que dividir o mesmo ar com um desafeto. Pra quê?</div><div style="text-align: justify;">Daí eu vim pra São Paulo. Na cidade grande e fria, percebi que muitas pessoas mal se falavam. Não tinha muitos amigos de verdade até que, por obra do acaso, me inseri num grupo de pessoas que me enchiam de orgulho. Era uma família unida, coisa que eu nunca havia tido. Estávamos sempre juntos pro que desse e viesse. Mas nem tudo é perfeito. Começaram a surgir coisas que foram tornando a convivência de todo o grupo menos agradável. Não sei se chamo de inveja, oportunismo, ego. Eu só sei que conseguiram fazer algo que eu achava até então impossível. Enfraqueceram o elo que unia o grupo. Se formaram grupos paralelos, os defeitos de todos começaram a superar as qualidades, havia discussões e brigas quase que semanais. E com o desgaste, o elo se rompeu. Não conseguiu mais suportar unir a todos com o peso que essas coisas traziam. </div><div style="text-align: justify;">Hoje, eu que transito entre esses mundos que se formaram paralelamente, por alguns deles, fico me perguntando o que levou a essa situação. O que teria sido mais forte que uma amizade de anos a fio, que uma confiança extrema adquirida. O que seria tão ruim que pudesse ter causado essa ruptura tão brusca e cheia de tristeza. Porque me lembro muito bem que o elo me dizia sentir muita tristeza. E a dor que via em seus olhos aperta aqui o meu peito enquanto eu estou escrevendo isso. Essa dor e essa tristeza, fez com que o amor se afastasse, a desconfiança e a insegurança ganhassem força e essa família hoje está tão enfraquecia que eu não sei mais se é uma família.</div><div style="text-align: justify;">Penso porém que ainda há uma chance. Acredito em ver todos reunidos celebrando a felicidade. O que precisa é a oportunidade de haver um perdão, um perdão sincero. Sem conversas que busquem achar um culpado, ou uma razão pra que as coisas acontecessem. </div><div style="text-align: justify;">Essa semana mesmo, me senti leve por perdoar a minha mãe. Que me feriu muito com uma escolha que fez pesando em sua felicidade. Mas com a Tia Vera eu aprendi uma coisa. Ela disse no velório da nossa Gabi que antes de virmos a esse mundo, escolhemos tudo pelo que vamos passar. Ao ouvir isso eu pensei e decidi perdoar minha mãe. Liguei pra ela na semana seguinte, porque perdoar não acontece de uma hora pra outra, num estalo, e conversei com ela. Não mencionamos sequer a palavra perdão ou reconciliação, mas pelo tom da conversa eu senti o perdão aceito. A voz mansa e o riso fácil vieram logo após o alô.</div><div style="text-align: justify;">Isso que eu espero dos que estão à minha volta. Que aceitem as coisas que aconteceram e não levem isso adiante. Perdoem uns aos outros e vivam o que tem que ser vivido juntos, sentindo o apoio e o amor enquanto podemos estar juntos. Porque se for esperar, pode ser que a hora certa não chegue. E aí, vai restar pedir perdão a Deus, mas não acho que isso adiante muito, porque Deus não foi quem ficou magoado nessa história.</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-3464407373275784042011-09-19T09:15:00.000-07:002011-09-19T16:30:19.410-07:00Sobre a Gabi..._ Oi, tudo bem? Eu sou o Charlie Liu.<br />
_ Oi, prazer! Eu sou a Gabinacozinha!<br />
_ Gente, mas eu jurava pelo seu avatar que voce era loira!<br />
_ HAHAHAHAH! Nunca fui, tava ruiva no avatar! Não é por causa do chapéu de chef?<br />
_ Deve ser... HAHAHAHAH!<br />
Foram essas as primeras palavras que me lembro de ter trocado com Gabi no dia em que a conheci, junto com o Tiul e a Kaikaa e o Gabbones. De uma vez só entratam três pessoas muito queridas na minha vida. Mas eu não sei se pela proximidade geográfica ou pela mineirice, a Gabi foi a que mais se aproximou de mim. <br />
Com sua amizade, vieram muitos ensinamentos. Com ela aprendi a rir nos momentos difíceis, a falar das coisas duras da vida com leveza e a poder desabafar com os amigos sem vergonha na hora da necessidade. Gabi nunca deixou de ouvir quem precisasse de seu ouvido generoso, pois sabia que cada um tinha seus problemas e assim como recebia a ajuda e o carinho com extrema humildade, também distribuía sorrisos, afagos e palavras de conforto.<br />
No tempo que fiquei longe, nunca deixou de querer saber como eu estava. Quando retornei, me recebeu com um abraço apertado, no qual eu me empolguei e quase quebrei suas costelas. Não tinha como não exagerar no amor estando perto dela.<br />
Neste último ano, nossa Gabi enfrentou sua mais dura batalha e, contrariando as estatísticas, conseguiu ficar entre nós por tempo suficiente pra nos dar mais lições de bravura, serenidade e sobretudo lições de amor! Por ela nos desapegamos da vaidade, raspamos nossos cabelos, formamos uma família enorme. Gabi e as pretinhas, sempre juntas.<br />
Com o humor e a simplicidade que sempre foram, pra mim ao menos, sua marca registrada, ela se despediu de nós:<br />
"(...) fiz até xixi (...)"<br />
Amanhã faria mais uma cirurgia, mas nosso Pai resolveu levá-la consigo antes de passar por mais um sofrimento. Hoje à noite, quando chegasse em casa, eu ia gravar essa música e mandar pra ela num videozinho, pra que ela pudesse ver e saber que eu estaria com ela nesse momento difícil... Não deu tempo, Gabizinha...<br />
Meu passarinho, sou seu sabiá... Não importa onde for, vou te catar, te vou cantar.. Te vou, te vou, te vou...<br />
Pra você ouvir, minha linda, pede o notebook do Papai do Céu emprestado:<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/2zOiWi-4drc?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-80437947008541889792011-09-02T18:30:00.000-07:002011-09-02T18:32:44.962-07:00Sobre a inconstância<div><br />
</div><div style="text-align: justify;">A gente acorda sem saber o que esperar do dia. A gente abre a torneira sem saber a temperatura da água. A gente liga o chuveiro sem saber o quanto ele vai demorar pra esquentar, nem se a água vai se manter quente até o fim do banho. Depois, no ponto do ônibus não há a certeza de quanto vai demorar pro ônibus passar e nem quanto tempo você vai demorar pra chegar ao destino. Nada na vida é certo, nada pode ser programado com perfeição. Assim também são as pessoas, não se pode prever as variações de humor, não se pode ler o que se passa nas mentes. </div><div style="text-align: justify;">Com o tempo, alguns aprendem a ler alguns sinais, a ter tato, mas ainda assim há o dia em que vamos errar e fazer algo inesperado. Assim a gente aprende também a não esperar sempre as mesmas atitudes, a mesma compreensão, o mesmo afeto, as mesmas palavras. Há dias e dias. Haverá vezes em que os abraços esperados não virão, que os apertos de mão não vão ser tão intensos quanto de costume, que as palavras não virão com a mesma doçura. </div><div style="text-align: justify;">Mas há dias também em que tudo vai parecer dar certo. A água sairá da torneira com a temperatura agradável, o banho será quentinho e confortante e o ônibus vai chegar no ponto junto com você, que vai conseguir chegar no trabalho na hora certa. Vai ser nesse dia que aquela pessoa vai te dizer as palavras que você esperava ouvir e você vai saber que valeu a pena ter passado por todas as incertezas da vida sem perder as esperanças.</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-59056325890418373272011-08-26T08:44:00.000-07:002011-08-26T08:44:52.810-07:00Sobre a tristeza<br />
Nem acredito que já fazem três meses. Ainda parece que foi ontem que estive com ela, deitado na sua cama, prometendo que a visitaria de novo em breve. Sua partida me deixou um vazio muito grande, que não sei se algum dia vou preencher. Às vezes digo pros outros que estou bem, procurando fazer com que eu mesmo acredite nisso, mas não estou e tenho muito medo de que um dia eu não aguente mais segurar e ser forte. Em cima disso tudo vieram vários problemas de família, grana. Nessa hora, a gente vê os amigos que estão com a gente de verdade mesmo, descobri que são pouquíssimos os que estão por perto de verdade, mas agradeço todos os dias por eles estarem na minha vida. Não sei se teria forças pra levantar da cama se não fossem essas pessoas que, estando perto ou estando longe, fazem questão de estar sempre comigo.<br />
Essa noite eu sonhei que a mãe estava aqui, comigo. Que eu coloquei uma roupa bem bonita nela e levei ela pra ver a Mari cantar, depois fomos pra casa e conversamos. Quando eu acordei, me lembrei que não teria dinheiro pra almoçar direito hoje, então resolvi ficar quieto na cama pra não sentir fome até dar a hora de ir trabalhar. Nisso a minha tia me ligou, dizendo que estava preocupada comigo e ia depositar 50 reais na minha conta. Fui ao banco e comecei a chorar no meio da rua, só pode ser a mãe olhando por mim de onde ela está. Tem horas que não aguento mais e tenho vontade de largar tudo pra trás e ir pra junto dela, mas também sei que não é isso que ela esperava de mim. Enfim, foi um texto curtinho, um desabafo, nem sei se vou deixar ele aqui no blog por muito tempo. Talvez eu volte aqui e apague...Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-28442406218778734362011-06-19T18:00:00.001-07:002011-06-19T18:00:59.517-07:00Sobre a imensa dor da saudade<div style="text-align: justify;">"Eu tava cansada e tava indo deitar, mas acho que bobeei no meio do caminho. Entrei no quarto e passei a mão na cama, mas achei que alguma coisa tava esquisita. O colcão tava meio mole, a cama parecia pequena. Passei a mão na parede e também não achei o botão da luz. Tentei sair, não achava a porta, foi quando eu vi que tava perdida e chamei a Maria."</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Essa foi a última história que eu ouvi a mãe contar, no dia do seu aniversário. Também foi essa a última vez que eu estive com ela. A última vez que eu deitei na sua cama, que senti seu cheiro, que conversamos.</div><div style="text-align: justify;">Hoje está fazendo um mês que ela se foi e eu consegui segurar as lágrimas até agora, mas elas teimam em vir cada vez em maior quantidade. Não sei se é a saudade ou se é a certeza de ter perdido a pessoa que mais me amou nessa vida, ou talvez a única que o tenha feito de verdade. </div><div style="text-align: justify;">Às vezes tenho vontade de desistir de tudo, e ir pra junto dela. Porque está muito difícil aguentar tudo sozinho. E acho que já o teria feito, não fossem alguns que, estando por perto, me dão um pouquinho de forças pra continuar.</div><div style="text-align: justify;">Obrigado André, Eduardo, João e Ronald, por serem essa força que ainda me faz continuar.</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-73017278892661905402011-05-10T19:00:00.000-07:002011-05-10T19:00:11.501-07:00Sobre o desabafo ou Sobre os pensamentos desconexos<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não sei como começar. A princípio vem a dor absurda de um ciclo que está prestes a terminar. Algo para o qual eu já devia estar preparado, mas descobri não estar. Chegar em casa e ver a mãe lá na cama, amarela e fraquinha, reclamando das dores me cortou o coração. Aquela mesma cama que eu dividi com ela durante anos, hoje parece incomodar. As costas não se ajeitam, o espaço parece ser pouco. </div><div><div style="text-align: justify;">Além dessa dor da perda iminente, há também a dor da solidão. Com a maioria dos amigos distantes, de todas as formas que poderiam estar, fica chato levar os problemas àqueles poucos que estão sempre por perto. Pela primrira vez na vida eu sinto a necessidade de ter alguem do meu lado me consumir. Eu que sempre gostei de brincar sozinho e falar sozinho, hoje as palavras me faltam por saber que não há ninguem por perto pra escutá-las. Daí eu começo a imaginar coisas, fantasiar, como a criança que busca refúgio em um mundo imaginário. Começo a tecer tramas que espero que se tornem realidade. Começo a ver carinho em palavras comuns, ternura em gestos corriqueiros e vou caminhando pra algo que nunca deu certo comigo, o amor. No fundo tenho a esperança de que pode ser dessa vez. Que finalmente vão enxergar a pessoa que eu sei que tem aqui dentro e que quase ninguem vê. Penso que posso ser querido e amado, ainda que o pessimismo me diga que isso é impossível, e que alguém que está por aí vai me abraçar pra ajudar a suportar as coisas terríveis que estão por vir.</div><div style="text-align: justify;">Ao mesmo tempo, por nunca ter me sentido amado, contraditoriamente eu penso que amar dói, e que acho que é algo para o qual não estou preparado. Acho que só eu que vejo o potencial que tenho e que, por mais que tente, ninguém nunca vai me ver desse modo. No fim das contas estarei aqui, sentado no chão do meu quarto, falando sozinho...</div></div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-27971787427218418202011-04-04T06:23:00.000-07:002011-04-04T19:32:37.521-07:00Sobre a perfeição<div style="text-align: justify;">Fomos criados pra não errar. Desde pequenos somos ensinados a fazer o certo e recompensados por isso. São presentes no Natal para os bonzinhos, nota 10 na escola para os inteligentes, pirulitos pra quem não tem medo do médico e por aí vai. não há problema nenhum em se recompensar o que é certo. <br />
O problema é que em alguns casos, o que é certo pra uns pode não ser certo pra outros. E assim surgem os julgamentos, que começam antes que você perceba. Ao conhecer uma pessoa, inevitavelmente a medimos, observamos seus movimentos, seu modo de falar, de vestir e até de andar. Caso se perceba algo diferente, dizemos que a pessoa está errada e logo ela é colocada em um grupo à parte. <br />
Há pessoas que "erram" e procuram se adequar para acertar, mas nem todos os mestres tem paciência. Alguns ensinam, outros castigam, outros botam pra fora da sala. </div><div style="text-align: justify;">Tenho muito medo de errar, medo de ser apontado e colocado pra fora da sala, ser um inadequado para a sociedade. Sei que posso fazer as coisas certas, mas pra isso é preciso felxibilidade, paciência e sobretudo paciência pra ensinar. Estou disposto a aprender e a começar a acertar, cada vez mais. Quem sabe um dia eu tiro um 10.</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-10167630225741251782011-03-16T19:15:00.000-07:002011-03-16T19:15:56.165-07:00Adeus, pequeno Rei<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVfoLjvEOW5zkKYLPjksyLGx7noWorF90k-GWdnnC1D1v7qqp5VzgAT8d1D2r3g_tt1ba2pmJG2DjmXYiXfAzcLmkXo-rVoLpKZs__K_xVHVsM-Ceitdm_xh8d-exX4cUMBMfQUc6raF4m/s1600/01kingarthur.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br />
</a></div>Hoje eu perdi um pouco o chão quando sou be que meu ex-aluno, que devia estar com uns 14 anos, resolveu nos deixar. <br />
O mundo perde hoje um menino inteligentíssimo que era ótimo karateca, que adorava aprender e que achava bonito fazer mágicas. Que gostava de brincar e tinha nos olhos a inocência que hoje em dia é tão rara nas crianças. Não tenho palavras pra descrever o quanto essa criaturinha me marcou. O quanto ele e os outros meninos da sua turminha me marcaram e me fizeram ver que o que eu queria, de verdade, era ser professor.<br />
Obrigado, Arturzinho. Que tenha aprendido na mesma poporção que me ensinou... Que ensine aos anjos o que é ser doce...<br />
Sempre vou ouvir sua risada ao imitar o meu sotaque fajuto, chamando-o de "King Arthur!"<br />
<br />
<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVfoLjvEOW5zkKYLPjksyLGx7noWorF90k-GWdnnC1D1v7qqp5VzgAT8d1D2r3g_tt1ba2pmJG2DjmXYiXfAzcLmkXo-rVoLpKZs__K_xVHVsM-Ceitdm_xh8d-exX4cUMBMfQUc6raF4m/s1600/01kingarthur.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVfoLjvEOW5zkKYLPjksyLGx7noWorF90k-GWdnnC1D1v7qqp5VzgAT8d1D2r3g_tt1ba2pmJG2DjmXYiXfAzcLmkXo-rVoLpKZs__K_xVHVsM-Ceitdm_xh8d-exX4cUMBMfQUc6raF4m/s1600/01kingarthur.jpg" /></a></div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-62270989187193802952011-03-08T10:24:00.000-08:002011-03-08T10:30:53.679-08:00Através do Universo<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11pt; line-height: 115%;">Estou aqui agora, no quarto onde passei uma boa parte da minha vida, quase a metade dela pra ser mais exato. Aqui eu tive sonhos e pesadelos, vivi experiências boas e traumáticas. Experimentei o prazer, a dor e a violência. Tudo entre essas quatro paredes que de azuis, na minha infância, agora são amarelas com um ou outro pernilongo esmagado contrastando com a cor que se esvai com o tempo.<br />
Mais uma vez me deito nesse meu berço, em um período crucial onde se inicia um novo ciclo, uma nova etapa. Tenho a sensação de que precisava estar aqui. Precisava estar nesse meu berço de tantas coisas para que pudesse me lembrar que, aconteça o que acontecer, é preciso continuar. É preciso seguir em frete, com afinco, fazendo de cada pedra um degrau, cada tropeço um impulso à frente, sem se esquecer que sempre, ladeando a estrada, há os amigos a quem posso recorrer! <br />
Saindo desse quarto, o mundo me espera lá fora. O sol a brilhar no céu azul, tudo muito lindo, assim como eu. Sendo assim, dear Charlie, won’t you come out to play?<br />
Dear Charlie, greet the brand new Day!</span></div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-85771183651671575392011-02-02T16:13:00.000-08:002011-02-02T17:12:09.511-08:00Sobre as aparências<div style="text-align: justify;">Maria de Fátima era diferente das outras meninas da escola. Era feia, era branca do cabelo ruim, era dentuça e tinha costeletas longas que meio que pareciam uma barba. As meninas da escola que andavam comigo riam dela. Era pouco inteligente, chamada de burra pelos colegas de classe e também por algumas professoras. Às vezes, na hora do recreio, risinhos sarcásticos e dedos apontados pra ela a faziam encolher-se e sentar-se num cantinho. Ao contrário dos outros alunos que usavam a camiseta da escola, ou roupas bonitas nas cores permitidas pela direção, Maria de Fátima usava uma saia que parecia um avental (eu chamava de jardineira) e uma camisa social branca. Apesar de já estarmos no ginásio, esse era o uniforme do grupo, e dava pra notar pelas marcas da bainha refeita e pelas pences abertas nas costas que Maria de Fátima já usava essa roupa fazia anos. Eu não me aproximava dela, apenas a olhava de longe. Me sentia sem-graça quando alguem que estava perto de mim ria da menina feia e às vezes esboçava uma risadinha, mas por dentro meu coração se apertava. Eu sabia quem era Maria de Fátima e parece que ela também sabia quem eu era.</div><div style="text-align: justify;">Um dia, a mãe não me deu dinheiro pro lanche. Era bobeira ter que comer na escola, afinal em quatro horas estaria de volta em casa pra almoçar e um pedaço de bolo bastava, ou uma banana, que eu comia escondido quando levava porque era fruta barata, não era maçã que nem dos outros. Mas nesse dia de fome, nem banana, nem bolo, nem nada. Sentei-me num cantinho do pátio e lá veio ela. Fiquei com medo, pois andava com os meninos e meninas que riam dela, e lembro de ter feito isso uma ou duas vezes. Ela chegou perto e segurava um pão com manteiga embrulhado num pano. Dividiu no meio com as mãos, olhou pra mim e disse:</div><div style="text-align: justify;">_Toma, come comigo! Eu sei que você está com fome.</div><div style="text-align: justify;">Aceitei e comi, ela sentou-se do meu lado e começamos a conversar. Maria de Fátima tinha uma voz linda e sabia de muitas coisas legais. Ela sorria e seus dentões brilhavam, sorrindo junto! Agradeci e pedi pra ela me esperar na hora de ir embora.</div><div style="text-align: justify;">A aula acabou. Saí da sala junto com ela e os outros me olharam esquisito. Mudei o caminho pra conversar mais com ela e pegava o ônibus já cheio, sem lugar pra sentar. Mas aprendi com Maria de Fátima que aparências valem menos que gestos e que a beleza vem junto com a generosidade. Desde então eu soube que, sendo rico ou pobre, usando roupa boa ou uniforme, comendo banana ou maçã, o que importa é o que você é por dentro. E agradeço a você, Maria de Fátima, por ser essa pessoa linda e por me dar essa lição que carrego até hoje e que agora passo adiante. Há muita gente precisando te conhecer!</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-89479031044581668872011-01-10T15:05:00.000-08:002011-01-10T15:08:07.630-08:00Mais sobre os sonhos<div style="text-align: justify;">Tem gente que não consegue se lembrar de sonhos. Eu não consigo esquecê-los. Já tive de todos os tipos. Tive aqueles em que eu caía do precipício, outros em que eu corria num campo pra abraçar Jesus e es se transformava no cramunhão quando eu pulava no colo dele. Tive sonhos daqueles de acordar fazendo xixi na cama, outros em que estava sem sapatos na escola. Estranho como a maioria desses sonhos que estou citando aqui aconteceram com muita gente. Eu super jurava que eram sonhos só meus e de mais ninguém. Porém sempre que eu os conto, tem alguém que já sonhou algo parecido.<br />
Mas há ainda um outro tipo de sonho que tenho sempre que é muito bizarro e esse, creio eu que não seja tão comum. Às vezes eu sonho que me aconteceu uma coisa muito boa, que eu estava esperando muito. Dia desses eu estava precisando de grana e sonhei que tinha achado 100 reais e escondi o dinheiro debaixo do travesseiro. Quando acordei de manhã, fui todo "cheio de si" pegar a minha mufunfa e cadê? Tinha ficado no sonho, mesmo. Não havia resquício nenhum de que o dinheiro havia estado ali. E esses dias eu sonhei que estava longe de todos os meus problemas e que os amigos que eu mais amo estavam junto comigo o tempo todo. Pra onde quer que eu olhasse, tinha alguém pronto pra me dar um abraço, me dizer uma palavra de afeto... Daí eu acordei, e vi que esse sonho é a mais pura realidade!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">P.S.: Dedico esse post a todos os meus amigos, sejam os que estão perto ou os que estão longe, e também às pessoas que sempre passam por aqui e me deixam um recadinho carinhoso. É minha forma de dizer obrigado!</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-23957642836154095202011-01-07T05:06:00.000-08:002011-01-07T05:08:52.858-08:00O Pombo Novo<div style="text-align: justify;">Sempre me identifiquei com pássaros. Quando pequeno, tinha um pintassilgo lá em casa que a mãe dizia que era meu. Constumava ficar horas sentado perto da gaiola, olhando ele cantar. Como sabem, morei no interior de Minas Gerais até os meus 16 anos e passarinho lá nunca faltou. Chegava a época do verão e eram revoadas de andorinhas, voando rápido e bailando em curas aéreas que faziam eu e meu primo, o Nêgo, corrermos atrás delas como bobos imitando suas curvas pelos pastos, onde eventualmente por estarmos distraídos pisávamos em alguma bosta de vaca. Havia também as maritacas, que a mãe mandava a gente enxotar porque, além de piarem desesperadamente, elas atacavam o pomar deixando só as capotas das frutas. Eram uma festa de aves pra onde quer que se olhava. Era sabiá, canário da terra, juriti, passo preto... Fora o papagaio brigão de quem eu já falei aqui.</div><div style="text-align: justify;">Uma vez, creio que estava na sétima série, eu li um poema que, se não me engano, se chamava "Iniciação". Era um poeminha pequeno, falando de um pombo novo. Era uma coisa simplesm, mas de uma beleza singela que me marcou e eu me lembro dele até hoje. Não faz muito tempo, o Evandro Breal me ensinou que aquilo era um haicai, que descobri no google ser da curitibana Helena Kolody e acho que dentre todos esses, foi esse pássaro que eu nunca vi que mais me marcou. Eis o tal, que não sei se reproduzi de forma correta, mas era mais ou menos assim:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div><div style="text-align: justify;">Iniciação...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Do beiral, o pombo novo </div><div style="text-align: justify;">prescruta o horizonte.</div></div><div><div style="text-align: justify;">A liberdade assusta o seu dom recente de alar-se.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Helena Kolody</div><br />
<div style="font-family: 'trebuchet ms';"><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #c39d6f;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 9px;"><br />
</span></span></div></div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-82213663149096755132010-12-25T03:59:00.000-08:002010-12-25T03:59:26.926-08:00Outra história de Natal<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dezembro sempre vem cheio de gentilezas, carinho e amor, que pra mim são comprados na farmácia. O espírito natalino força as pessoas a fazerem coisas que deveriam fazer também nos outros meses, como serem gentis e tolerantes, por exemplo. Embora eu ame estar com algumas das pessoas da minha família, não gosto de fazer isso no natal quando está todo mundo sendo mais artificial do que as flores que vovó costuma ganhar de presente das vizinhas. Enfim, não gosto de Natal!</div><div style="text-align: justify;">Estava eu ano passado, em Minas, quando a família começa a chegar sem avisar na nossa casa e vovó, por se sentir mal, teve que ser internada meio que às pressas.</div><div style="text-align: justify;">_Mas internar? Nas vésperas do Natal? - As pessoas falavam isso como se a doença da mãe estivesse estragando a festa de todo mundo. Como se desse pra falar pro câncer: Ó, dá um tempo aí e volta a doer depois do ano novo, porque né?</div><div style="text-align: justify;">Enfim. Chega a véspera do Natal, a casa estava lotada, tinha gente dormindo até na cozinha com os cinco quartos e as duas salas já ocupadas. Decidi passar a noite com minha avó no hospital. Não poderia ter feito coisa melhor. Minha avó feliz por eu estar lá com ela, quase não dormiu. Passamos a noite quase toda acordados, lembrando de coisas que aconteceram em nossas vidas e fazendo planos para o futuro. Foi a primeira vez em que eu tive um "Feliz Natal".</div><div style="text-align: justify;">Na manhã seguinte, os dois já acordados, mas ainda baqueados pela noite mal dormida, começamos a ouvir um "tchakundun tchakundun" de violão de coral de igreja. Sim, havia um Papai Noel dentro do hospital acompanhado de umas velhinhas cantando hinos natalinos. Eu e minha véia, ao ouvir aquilo começamos a rir, sem parar e quando o coral chegou no nosso quarto, tive que entrar no banheiro pra não passar vergonha. Qando acaba a cantoria, minha avó me diz:</div><div><div style="text-align: justify;">_ Ó que Papai Noel filho da puta! Sabe que eu sou diabética e me enche as mãos de bala. Quer me matar mais depressa?</div><div style="text-align: justify;">Não aguentei, explodi na gargalhada. Guardei as balas pra levar pra minha prima e passei o resto da manhã lá, até que minha tia veio me substituir. </div><div style="text-align: justify;">Esse ano não estou com minha família. Mas decidi isso porque queria ficar perto de pessoas que, pra mim, são igualmente importantes. É isso aí! Tenham todos um Feliz Natal!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5859533549931688862.post-17055796369985924472010-10-08T07:11:00.000-07:002010-10-08T07:12:34.708-07:00A Morte<div style="text-align: justify;">Essa noite eu sonhei que ia morrer de acidente de carro. Era meu destino morrer assim. Acordei pensando no que significava a morte. Quando eu era pequeno eu tinha muito medo de morrer, porque sempre me disseram que eu era uma criança ruim, e que as pessoas ruins iam pro inferno. E se há um lugar onde não quero estar quando eu morrer, este lugar é o inferno. Mas a morte pra mim sempre foi algo muito distante, até o dia em que quis morrer e tomei água com sabão em pó e tomei uma coça por desperdiçar o sabão! </div><div style="text-align: justify;">Depois disso, tive alguns contatos breves com a morte, como do dia que deixei um pintinho cair no tacho de toucinho fritando e tomei outra coça por desperdiçar o toucinho. </div><div style="text-align: justify;">Mas a morte chegou mesmo na minha casa junto com a Tia Iracema. Ela era irmã de minha avó, e se recusava a aceitar que tinha câncer no estômago porque câncer era doença de gente ruim, como se ela houvesse algum dia na vida sido uma pessoa muito boa e merecedora da vida eterna. Porém, a doença foi avançando e, quando ela resolveu se tratar, era tarde demais. Já com uma certa idade, sem filhos, com um marido um tanto quanto inútil e morando no Rio de Janeiro, Tia Iracema foi pra Minas pra morrer onde tinha nascido. </div><div style="text-align: justify;">Dois meses depois e vinte quilos a menos, Tia Iracema morreu. Cheguei da escola e, no lugar dos sofás da sala, haviam cadeiras e um caixão imenso com flores amarelas e a tia deitada lá. Suei frio, tremi e passei meio que correndo pela presunta. Daí, me explicaram a morte da maneira mais pedagógica possível:</div><div style="text-align: justify;">_Tia Iracema bateu as botas!</div><div style="text-align: justify;">Voltei até a sala e olhei de longe pra cara dela. Parecia que estava dormindo e meio que rindo da gente, pois a cara dela tinha um ar de "Vocês vão continuar se fodendo aí e eu tô com minha missão cumprida". Mas outra coisa me chamou a atenção. Uma bolota que surgia entre as flores dentro do caixão. A curiosidade foi maior que o medo e cheguei perto pra ver. Num misto de medo e, admito, um pouquinho de nojo, coloquei a mão naquilo e vi que era o dedão do pé da velha. </div><div style="text-align: justify;">_Mãe! Corre aqui! A Tia Iracema tá sem sapato!- gritei.</div><div style="text-align: justify;">Tomei uns tapas pra aprender a ser discreto e aprendi que, além de não gostar de escândalos, a morte também não permitia sapatos!</div>Charleshttp://www.blogger.com/profile/00088615690299267795noreply@blogger.com4