domingo, 17 de maio de 2009

A mulher santa

Minha mãe trabalhava no Rio de Janeiro, na casa de uma senhora muito alta e peituda chamada D. Hilda. Sempre que ia pra lá nas férias algo me intrigava. D. Hilda se levantava cedinho, ia até a copa, tomava um cálice de vinho e comia uma hóstia. Todo dia esse ritual. Eu, com 5 ou 6 anos na época, ficava admirado, achando que a mulher era santa, porque a hóstia que ela comia era do mesmo tamanho da hóstia do padre, daquelas bitelonas.
Tinha medo de chegar perto dela, achava que ela devia ser meio santa, ou algo parecido. Ela se aproximava e eu procurava ficar bem quietinho, escutando o que ela tinha pra falar, e quando me perguntava algo eu assentia com a cabeça ou forçava um sorriso meio amarelo.
Anos depois, já morando aqui em São Paulo, descobri a fonte da santidade da velhota... A lojinha japonesa! Sim, a tal da hóstia era nada mais nada menos que uma bolacha "sembei" que ela comia junto com o cálice de vinho q ela tomava. A pergunta que não quer calar agora é: Por quê só UMA bolachinha?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

E a alma renasceu com flores de algodão...

Eu respiro música, todo mundo sabe. Morro sem meu mp3, e não podem faltar vocais femininos. E lá em Barbacena, quando eu era criança pequena, como ainda não havia tal tecnologia, era o toca-discos que ficava ligado o dia inteiro. 
Pois bem... Eu tinha 10 anos e era a época que estava passando a novela Tieta do Agreste, que eu assistia todo dia antes de dormir, contrariando minha avó. E na trilha sonora estavam presentes 3 divas da nossa música: Fafá, Elba e Simone. Um dia chega minha tia da cidade com o volume 1 e o volume 2 da trilha de Tieta. E os vinis tocavam sábados a fio, dia de faxina, e cantávamos como se não houvesse amanhã.
Um belo dia, enquanto minha tia encerava e eu passava o escovão, recebi o encosto da Julie Andrews e desatei a cantar Coração do Agreste, da Fafá de Belém, que era tema do retorno da Tieta pro Mangue seco. Eu de cabeça abaixada, distraído, mandando ver no escovão na sala de estar e arrasando no refrão: 
_ "E a alma renasceu com flores de algodão no coração do agresteeeeeeeeeeeee! Quaaaaaaaaaaaaaando eu morava aqu...."
Vi um uns reflexos no chão... Tentei contar quantos eram... olhei de relance pra cima e... Visitas... Que não chamaram no portão porque me ouviram cantando e perceberam que tinha gente em casa.
Larguei o escovão e saí correndo, morto de vergonha e me escondi na horta até o povo ir embora... Foi quando decidi que ia pedir pra minha mãe levar pra mim um walkman de presente de Natal!