quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Uma história de Natal

Quando eu era pequeno eu era doido com as coisas do He-man. Assistia o desenho todo dia na hora do almoço e depois juntava com meu primo, que sempre tinha que ser o Esqueleto e inventávamos nossas aventuras. Resolvi então que queria o Castelo de Greyskull de nata. Escrevi cartinha ara o Papai Noel, que eu bem sabia que era pra minha mãe que trabalhava no Rio de Janeiro. Procurei me comprtar bem o ano inteiro, e tirar boas notas pra garantir meu presente.
Chegou o tão eperado dia. Acordei de manhã e, ao levantar, tropecei na caixa enorme, que era praticamente do me tamanho. Rasguei o papel colorido e a caveirona do Castelo parecia sorrir pra mim. Abri tudo com voracidade, os bonequinhos todos dentro e... Pera aí. Cadê o He-man? Procurei nos papéis rasgados amontoados, no fundo das caixas e nada do He-man.
_ O He-man náo tinha mais, só deu pra comprar esses daí.
Meus olhos meio que começaram a lacrimejar. De que vale ter o Castelo de Greyskull sem o He-man? Que histórias eu teria pra inventar, se me faltava o herói? Porém, a cara de decepção teve que dar lugar a uma alegria falsa, que com o tempo se tornou verdadeira. Não podia mostrar pra minha mãe, que tanto havia trabalhado pra me dar o tal presente que ele não era exatamente o que eu queria, que ele estava incompleto.
Pois esse ano a história se repetiu, eu esperei meses por meu Castelo de Greyskull, mas ele veio sem o He-man. Quer dizer, o He-man até veio, mas veio disfarçado de esqueleto. Não era o herói que esperava que ele fosse.E dessa vez, quem trabalhou pra tê-lo fui eu, e eu pude chorar, porque a decepção era minha e só minha.
Mas a experiência traz a sabedoria. Junto com o Castelo veio outro bonequinho, sabe aquele que não lembramos direito o nome? Pois é. Ele veio, e fez minha alegria. E é dele que vou lembrar pra sempre, quando alguém falar do He-man.
Espero que todos tenham tido um Feliz Natal, e que tenham ganho o que esperavam. Caso isso não tenha acontecido, é só dar uma olhadinha nas outras coisas em volta, com certeza uma delas se torará especial e única.
Dedicado à minha "Pinturinha".

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sobre nossos poderes secretos

Sempre odiei as aulas de Educação Física. O fato de ser filho único pode ter contribuído para que isso acontecesse. A verdade é que eu nunca soube, nem nunca tive vontade de saber jogar bola, tinha vergonha de pôr o uniforme, e sempre era o último a ser escolhido pra qualquer coisa mesmo. Mas, como na vida não se pode fazer somente o que se quer eu era obrigado a fazer as tais aulas. Pra facilitar a troca do uniforme, pois não podíamos assistir as outras aulas de bermuda, eu costumava colocar a calça por cima da bermuda mesmo, pra não precisar dividir o vestiário com nenhum dos meninos da minha turma. Não era o tipo popular, e nunca tive amigos homens na escola. 
Um dia estava muito calor, não havia meios de ir com uma calça por cima da bermuda. Merda! Ia ter que entrar no vestiário. desci da sala de aula alguns minutos antes pra tentat pegar o vestiário sem ninguém e me trocar em paz. Mas acho que alguém mais teve essa idéia, e aí o que eu esperava ser ruim, acabou sendo pior.
Roney era o típico galã da sétima série. Bonito, sorriso largo e sempre presente, encantava com toda facilidade do mundo as meninas e também uns meninos, diga-se de passagem. Ele entra no vestário e, quando eu me preparava pra sair imediatamente e calçar o tênis no pátio, o vento bateu a porta com força, trancando-a e derrubando a chave para o lado de fora. Aquilo não podia estar acontecendo. Fiquei vermelho e não sabia o que fazer.
_ Acho que vamos ter que pedir ajuda, né?
Assenti com a cabeça e não falei nada. Nisso, ele começou a bater na porta e gritar.
_Estou preso no vestiário! Alguém abre,  por favor?
Ouvi um burburinho. Era a turma toda descendo para a aula. Um dos amigos dele abriu a porta e ele saiu, sem se trocar. Eu tive que sair em seguida. Uma gargalhada coletiva ecoou na minha cabeça. Um mar de dedos apontado pra ele e pra mim.
_Eu sabia q vocês iam zoar, seus babacas. Disse ele antes de uma risadinha sem-graça.
Neste momento, não vi mais nada. Acho que permaneci imóvel por uns cinco minutos. Um branco total ocupava esse espaço de tempo. Nesse dia descobri que tinha esse poder. De instantaneamente criar um vazio, ou uma dimensão paralela, ou o nome que queiram dar. Assim, as coisas não doem tanto. E ao longo de minha vida, tenho feito essas pequenas viagens pra uma terra desconhecida, onde só eu existo, ou nem existo. E volto são e salvo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sobre o apelido de infância

Quando eu era pequeno, minha avó me chamava de Chico. Eu não entendia a relação do meu nome, Charles, com meu apelido, Chico. Daí que um dia eu pedi pra ela me explicar o porquê.
Quando eu nasci, em Teresópolis, minha mãe era solteira e estava trabalhando. Ela não podia cuidar de mim, e me levou pra Minas, pra que minha avó cuidasse. Naquele tempo, filho de mãe solteira não era a coisa mais fofa do mundo não, era chamado de filho-de-moita, inclusive. E meu pai, tirando o espermatozóide, nunca mais contribuiu em nada para que eu aqui estivesse. Daí que como minnha avó também trabalhava, minha madrinha ajudava ela a tomar conta de mim, só que minha madrinha, a Tia Maria, nunca foi muito paciente.
Pois bem. No final daquele ano mesmo, como de costume, meus parentes de São Paulo foram passar as festas com a família. E minha prima Marlúcia, a mulher mais engraçada do mundo, tinha uma filha pequena, a Fabiana, que era meio chatinha, mas havia se encantado com o bebezinho da casa. E Fabiana, toda hora vinha perguntar pra minha tia:
_Maria, como é mesmo o nome do bebê?
_Charles, Fabiana!
_Ah... Tá!
Uns minutos depois ela voltava:
_Ô Maria, como é mesmo o nome do bebê?
_É Charles, Fabiana.
_Ah...
Depois de umas idas e voltas de Fabiana, a paciência de minnha tia foi se esgotando. Eis que ela se acaba, e Fabiana volta.
_Maria, como é que é mesmo que você falou que é o nome do bebê?
_Chico, Fabiana! O nome dele é Chico!
_Ah! Então vai lá no quarto que eu acho q o Chico cagou!
Desde então eu virei o pequeno Chico!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sobre a solidão

Eu devia ter uns 8 ou 9 anos quando isso aconteceu. Era um dia frio, não tinha aula e eu não me lembro o porquê. Eu acordei um pouco mais tarde do que o de costume e não tinha ninguém do lado. Nessa época eu costumava dormir com minha avó. Me levantei, fui até a cozinha e nada. Andei pela casa, de cômodo em cômodo e não vi sequer uma alma. Procurei meus chinelos que estavam quase inalcançáveis embaixo da cama e os calcei. Saí correndo pela casa, abri a porta da cozinha e olhei para o terreiro que ainda estava enevoado. Realmente não havia ninguém. Teria eu sido abandonado? Aquela sensação me atravessou o peito, e já deseperado eu gritei:
_Mãe? Mãe?
_Estou aqui! Na horta!
Eu respirei aliviado. A poucos metros de mim estava ela, minha mãe-avó. Podia ficar tranqüilo, pois não estava mais sozinho.
Hoje eu acordei assim. Estava na casa de um amigo, e vim caminhando pelas ruas do centro. Pessoas passavam por mim sem rosto, como a névoa fria das manhãs no sítio. Tentei gritar, mas a voz adulta se embarga, já não sai mais com a facilidade de quando eu era criança. A mãe está longe, e mesmo que eu grite com todas as forças, ela não vai me ouvir. Mesmo cercado de gente por todos os lados, eu estou sozinho.
É... Não há ninguém na horta.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sobre as escolhas...

Como eu já disse aqui, em julho eu sempre ia pro Rio de Janeiro passar as férias com minha mãe. Era a única época do ano em que eu passava mais que dois dias do lado dela. Minha mãe trabalhava pra uma jornalista que eu amava, D. Ana, que tinha duas filhas incríveis, Débora e Cynthia, com quem hoje mantenho contato através do Orkut. Mas enfim, vamos à história.

Nos fins de semana a gente semre saía pra passear, e eu me lembro que adorava comer aquelas bolachas japonesas, sembei, e eu fingia que estava tomando a comunhão (era um dos meus sonhos). Um dia, minha mãe me levou na dasa da D. Julieta, que era vó das meninas. Não sei porque, mas naquela época as pessoas mais velhas sempre davam dinheiro pras crianças, não necessariamente só as avós. Um sorrisinho bem dado, um beijinho na bochecha rendia uns trocados pra comprar um sorvete. Nesse dia em que fomos em sua casa, D. Julieta em um surto de generosidade me deu uma quantia em dinheiro que até aquele dia eu só tinha visto na mão dos outros, e disse:

_ Vai comprar um presentinho pra você!

Agradeci, e minha boca se abriu em um sorriso de orelha a orelha.
Saí com minha mãe, andamos a tarde inteira e encontrei nas Lojas Americanas o que eu tanto queria! Havia muitas opções, de Playmobils a Comandos em Ação, mas eu havia encontraro o meu presente perfeito! Sobrou dinheiro ainda pra um lanche no Bob's e um milkshake!
Chegamos em casa. Fui correndo agradecer D. julieta e mostrar os presentes que eu tinha comprado, com cara de orgulho. Mas meu sorriso murchou com a cara de decepção que ela fez, quando viu o que o menino de 8 anos trazia nas mãos.

_ Dois discos da Xuxa? Você comprou dois discos da Xuxa?

A cara dela denunciava algo que anos mais tarde eu entenderia, e seria mais ou mesmo a mesma cara que minha mãe faria quando eu contasse pra ela, dali a alguns anos que, eu gostava de meninos.