Sempre me identifiquei com pássaros. Quando pequeno, tinha um pintassilgo lá em casa que a mãe dizia que era meu. Constumava ficar horas sentado perto da gaiola, olhando ele cantar. Como sabem, morei no interior de Minas Gerais até os meus 16 anos e passarinho lá nunca faltou. Chegava a época do verão e eram revoadas de andorinhas, voando rápido e bailando em curas aéreas que faziam eu e meu primo, o Nêgo, corrermos atrás delas como bobos imitando suas curvas pelos pastos, onde eventualmente por estarmos distraídos pisávamos em alguma bosta de vaca. Havia também as maritacas, que a mãe mandava a gente enxotar porque, além de piarem desesperadamente, elas atacavam o pomar deixando só as capotas das frutas. Eram uma festa de aves pra onde quer que se olhava. Era sabiá, canário da terra, juriti, passo preto... Fora o papagaio brigão de quem eu já falei aqui.
Uma vez, creio que estava na sétima série, eu li um poema que, se não me engano, se chamava "Iniciação". Era um poeminha pequeno, falando de um pombo novo. Era uma coisa simplesm, mas de uma beleza singela que me marcou e eu me lembro dele até hoje. Não faz muito tempo, o Evandro Breal me ensinou que aquilo era um haicai, que descobri no google ser da curitibana Helena Kolody e acho que dentre todos esses, foi esse pássaro que eu nunca vi que mais me marcou. Eis o tal, que não sei se reproduzi de forma correta, mas era mais ou menos assim:
Iniciação...
Do beiral, o pombo novo
prescruta o horizonte.
A liberdade assusta o seu dom recente de alar-se.
Helena Kolody
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