terça-feira, 21 de outubro de 2008

Cheiros e gostos de uma vida

Eu moro em São Paulo há 12 anos, porém sou do interior de Minas Gerais. Fui criado na zona rural de uma cidadezinha chamada Barbacena, que já não é mais tão cidadezinha. E uma das coisas que me fazem pensar nessa época, são os cheiros e gostos que ficaram em minha memória.
Me lembro que acordava cedo, com o galo cantando e Zé Bétio no rádio. Dormia com minha avó, coisa que fiz até os 13 anos de idade, sem vergonha nenhuma, porque ela dormia em quarto separado do meu avô e eu era a costelinha dela, como ela me chamava. Fui criado por ela, e até hoje a chamo de mãe, coisa que minha mãe de verdade não deve gostar muito. Ela levantava assim que o galo cantava, acendia o fogão  a lenha e fazia aquele café cujo cheiro entrava pelos quartos e dizia a todos que era hora de levantar. E o gosto, aquel café tinha gosto de agradecimento, por estar de pé mais um dia pra apreciar a vida. Depois era hora de ir pra escola.
Quando eu voltava da escola, meu prato estava lá no cantinho do fogão me esperando. A mãe me olhava, vigiando eu comer aquele prato que tinha gosto de todo o amor que ela sempre teve por mim, mesmo com seus rompantes de raiva e as surras que me dava, muitas vezes merecidas.
A tarde não demorava a chegar, junto com ela vinha o cheirinho da broa de fubá, com o gosto do descanso de estar trabalhando o dia todo. Dificilmente jantávamos, mas tinha o leite com gosto e cheiro de chocolate, que trazia consigo o conforto da cama e o descanso... Eram esses os gostos que nenhum chef jamais ousou reproduzir, que ficaram ra trás e só eu os saberei.
Porémum dia, ao chegar em casa pro almoço, vejo minha mãe chorando enquanto fazia a comida, coisa que geralmente acontecia mais cedo. Fiquei observando sem perguntar o por quê. Enquanto ficava ali, sem saber o que fazer, sofrendo junto com minha mãezinha, notei que lágrimas discretas caíam de seu rosto e uma delas caiu, sem que ela percebesse, dentro da panela de feijão. Não falei nada... Na hora de comer, pensei em recusar o feijão, com um pouco de nojo. Mas ao olhar o carinho com que ela preparava o prato eu não tive coragem de recusar. Mas foi nesse dia que eu senti, pela primeira vez, o gosto da tristeza.

10 comentários:

Unknown disse...

Nem sempre é um gosto que dá pra disfarçar...
Mas acho q mtos fingem que não o sentem...
Sei lá, às vezes é mais fácil fazer assim...

Lele Siedschlag disse...

chorei.

te amo.

Raullzito disse...

ai, se toda tristeza fosse uma lágrima de minha vovó no feijão.
minha vida seria mais feliz...

adorei Liu.

Anônimo disse...

td bem q a primeira coisa q eu pensei foi "quando eu era pequena, lá em barbacena..." hahahahaha


mas muito legal o post! gostei mesmo!

Erikinha disse...

Lindo demais...

F. disse...

PUTAQUEOPARIU

Anônimo disse...

Ain q lindo Charlie...

sério q eu fikei imaginando o Charliezinho chegando da escola e sentado na mesa...

aaaownnn...

=*

Anônimo disse...

já viu o filme "Como água para chocolate", que foi baseado no livro homônimo?

se não, veja.


- a cena da moça preparando o bolo de casamento da irmã que vai casar com o amor dela... ela chorou, e ao provarem do bolo, os convidados choraram as dores dos amores perdidos. até o padre chorou. =~~

Melissa Mell disse...

U´re so sweet!

Maria Eduarda disse...

lindo, chorei tambem.