Me lembro que acordava cedo, com o galo cantando e Zé Bétio no rádio. Dormia com minha avó, coisa que fiz até os 13 anos de idade, sem vergonha nenhuma, porque ela dormia em quarto separado do meu avô e eu era a costelinha dela, como ela me chamava. Fui criado por ela, e até hoje a chamo de mãe, coisa que minha mãe de verdade não deve gostar muito. Ela levantava assim que o galo cantava, acendia o fogão a lenha e fazia aquele café cujo cheiro entrava pelos quartos e dizia a todos que era hora de levantar. E o gosto, aquel café tinha gosto de agradecimento, por estar de pé mais um dia pra apreciar a vida. Depois era hora de ir pra escola.
Quando eu voltava da escola, meu prato estava lá no cantinho do fogão me esperando. A mãe me olhava, vigiando eu comer aquele prato que tinha gosto de todo o amor que ela sempre teve por mim, mesmo com seus rompantes de raiva e as surras que me dava, muitas vezes merecidas.
A tarde não demorava a chegar, junto com ela vinha o cheirinho da broa de fubá, com o gosto do descanso de estar trabalhando o dia todo. Dificilmente jantávamos, mas tinha o leite com gosto e cheiro de chocolate, que trazia consigo o conforto da cama e o descanso... Eram esses os gostos que nenhum chef jamais ousou reproduzir, que ficaram ra trás e só eu os saberei.
Porémum dia, ao chegar em casa pro almoço, vejo minha mãe chorando enquanto fazia a comida, coisa que geralmente acontecia mais cedo. Fiquei observando sem perguntar o por quê. Enquanto ficava ali, sem saber o que fazer, sofrendo junto com minha mãezinha, notei que lágrimas discretas caíam de seu rosto e uma delas caiu, sem que ela percebesse, dentro da panela de feijão. Não falei nada... Na hora de comer, pensei em recusar o feijão, com um pouco de nojo. Mas ao olhar o carinho com que ela preparava o prato eu não tive coragem de recusar. Mas foi nesse dia que eu senti, pela primeira vez, o gosto da tristeza.
10 comentários:
Nem sempre é um gosto que dá pra disfarçar...
Mas acho q mtos fingem que não o sentem...
Sei lá, às vezes é mais fácil fazer assim...
chorei.
te amo.
ai, se toda tristeza fosse uma lágrima de minha vovó no feijão.
minha vida seria mais feliz...
adorei Liu.
td bem q a primeira coisa q eu pensei foi "quando eu era pequena, lá em barbacena..." hahahahaha
mas muito legal o post! gostei mesmo!
Lindo demais...
PUTAQUEOPARIU
Ain q lindo Charlie...
sério q eu fikei imaginando o Charliezinho chegando da escola e sentado na mesa...
aaaownnn...
=*
já viu o filme "Como água para chocolate", que foi baseado no livro homônimo?
se não, veja.
- a cena da moça preparando o bolo de casamento da irmã que vai casar com o amor dela... ela chorou, e ao provarem do bolo, os convidados choraram as dores dos amores perdidos. até o padre chorou. =~~
U´re so sweet!
lindo, chorei tambem.
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