sábado, 25 de dezembro de 2010

Outra história de Natal


Dezembro sempre vem cheio de gentilezas, carinho e amor, que pra mim são comprados na farmácia.  O espírito natalino força as pessoas a fazerem coisas que deveriam fazer também nos outros meses, como serem gentis e tolerantes, por exemplo. Embora eu ame estar com algumas das pessoas da minha família, não gosto de fazer isso no natal quando está todo mundo sendo mais artificial do que as flores que vovó costuma ganhar de presente das vizinhas. Enfim, não gosto de Natal!
Estava eu ano passado, em Minas, quando a família começa a chegar sem avisar na nossa casa e vovó, por se sentir mal, teve que ser internada meio que às pressas.
_Mas internar? Nas vésperas do Natal? - As pessoas falavam isso como se a doença da mãe estivesse estragando a festa de todo mundo. Como se desse pra falar pro câncer: Ó, dá um tempo aí e volta a doer depois do ano novo, porque né?
Enfim. Chega a véspera do Natal, a casa estava lotada, tinha gente dormindo até na cozinha com os cinco quartos e as duas salas já ocupadas. Decidi passar a noite com minha avó no hospital. Não poderia ter feito coisa melhor. Minha avó feliz por eu estar lá com ela, quase não dormiu. Passamos a noite quase toda acordados, lembrando de coisas que aconteceram em nossas vidas e fazendo planos para o futuro. Foi a primeira vez em que eu tive um "Feliz Natal".
Na manhã seguinte, os dois já acordados, mas ainda baqueados pela noite mal dormida, começamos a ouvir um "tchakundun tchakundun" de violão de coral de igreja. Sim, havia um Papai Noel dentro do hospital acompanhado de umas velhinhas cantando hinos natalinos. Eu e minha véia, ao ouvir aquilo começamos a rir, sem parar e quando o coral chegou no nosso quarto, tive que entrar no banheiro pra não passar vergonha. Qando acaba a cantoria, minha avó me diz:
_ Ó que Papai Noel filho da puta! Sabe que eu sou diabética e me enche as mãos de bala. Quer me matar mais depressa?
Não aguentei, explodi na gargalhada. Guardei as balas pra levar pra minha prima e passei o resto da manhã lá, até que minha tia veio me substituir. 
Esse ano não estou com minha família. Mas decidi isso porque queria ficar perto de pessoas que, pra mim, são igualmente importantes. É isso aí! Tenham todos um Feliz Natal!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A Morte

Essa noite eu sonhei que ia morrer de acidente de carro. Era meu destino morrer assim. Acordei pensando no que significava a morte. Quando eu era pequeno eu tinha muito medo de morrer, porque sempre me disseram que eu era uma criança ruim, e que as pessoas ruins iam pro inferno. E se há um lugar onde não quero estar quando eu morrer, este lugar é o inferno. Mas a morte pra mim sempre foi algo muito distante, até o dia em que quis morrer e tomei água com sabão em pó e tomei uma coça por desperdiçar o sabão! 
Depois disso, tive alguns contatos breves com a morte, como do dia que deixei um pintinho cair no tacho de toucinho fritando e tomei outra coça por desperdiçar o toucinho. 
Mas a morte chegou mesmo na minha casa junto com a Tia Iracema. Ela era irmã de minha avó, e se recusava a aceitar que tinha câncer no estômago porque câncer era doença de gente ruim, como se ela houvesse algum dia na vida sido uma pessoa muito boa e merecedora da vida eterna. Porém, a doença foi avançando e, quando ela resolveu se tratar, era tarde demais. Já com uma certa idade, sem filhos, com um marido um tanto quanto inútil e morando no Rio de Janeiro, Tia Iracema foi pra Minas pra morrer onde tinha nascido.
Dois meses depois e vinte quilos a menos, Tia Iracema morreu. Cheguei da escola e, no lugar dos sofás da sala, haviam cadeiras e um caixão imenso com flores amarelas e a tia deitada lá. Suei frio, tremi e passei meio que correndo pela presunta. Daí, me explicaram a morte da maneira mais pedagógica possível:
_Tia Iracema bateu as botas!
Voltei até a sala e olhei de longe pra cara dela. Parecia que estava dormindo e meio que rindo da gente, pois a cara dela tinha um ar de "Vocês vão continuar se fodendo aí e eu tô com minha missão cumprida". Mas outra coisa me chamou a atenção. Uma bolota que surgia entre as flores dentro do caixão. A curiosidade foi maior que o medo e cheguei perto pra ver. Num misto de medo e, admito, um pouquinho de nojo, coloquei a mão naquilo e vi que era o dedão do pé da velha. 
_Mãe! Corre aqui! A Tia Iracema tá sem sapato!- gritei.
Tomei uns tapas pra aprender a ser discreto e aprendi que, além de não gostar de escândalos, a morte também não permitia sapatos!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sobre os tempos de escola

Eu estudava em uma escola na zona rural de Barbacena, em uma localidade chamada José Luiz. Embora pra muita gente isso pareça uma coisa distante ou mesmo surreal, no tempo em que estudei ainda havia castigo corporal na escola. Aprendíamos entre reguadas, beliscões e puxões de orelha. Me lembro que quando a mãe me colocava na kombi da prefeitura ela falava pra minha professora:
_ Pode descer o cacete, por minha conta!
Eu estudava com o Nêgo, aquele que fumava escondido comigo. A gente tinha pavor de errar. Estudávamos em casa, fazíamos o dever e, quando chegávamos na escola era aquele medo. Será que íamos levar um puxão de orelha ou um cascudo?
O puxão de orelha doía mais na alma do que na orelha, na verdade. Ele nos tirava o direito de errar pra poder aprender. Dependendo da cara da professora ao corrigir nossas tarefas, ou ao perceber um comportamento um pouco inadequado, a gente já se encolhia e esperava o castigo.
Esse fantasma do puxão de orelha ainda me persegue até hoje. Tenho muito medo de errar, ou fazer algo que desagrade a alguém e levar um puxão de orelha. Ainda encontro por aí muitas professoras que preferem dar um puxão de orelha a ensinar o que é certo ou aceitar que você teve dificuldade em assimilar algo. Ainda me encolho, esperando o castigo que virá, de uma forma ou de outra. 
Estou aqui encolhidinho agora, vai doer... Eu sei que vai.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma pequena história de amor

Na maioria das vezes eu conto histórias minhas aqui. Mas andei meio sumido e minhas histórias não têm sido muito interessantes. Sendo assim, decidi contar uma historinha curtinha, mas que muito me comoveu. Aconteceu aqui na cidadezinha onde moro. Os nomes serão modificados pra manter a privacidade dos envolvidos.
Maria começou o namoro com Antônio e se viu apaixonada. Fazia tudo o que ele queria. Mudou o jeito de se vestir, preparava as melhores comidas, tudo o que estivesse ao seu alcance ela procurava fazer pra cativar o seu amor. Um dia Antônio disse a Maria:
_ Acho tão bonito quando essas meninas sorriem de aparelho!
Maria não teve dúvida. Na semana seguinte ela volta do dentista com o sorriso aberto, prateado, pra quem quisesse ver. Ela mandou colocar um aparelho na dentadura! Antônio adorou, se sentiu especial com sua namorada de sorriso metálico portátil!
Hoje eles não namoram mais. Maria já não usa aparelho, mas ostenta um lindo e brilhante piercing dental pra, quem sabe, conquistar um novo amor!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre os mistérios da noite.

A noite pra quem mora na roça é um assunto à parte. Há muitos mistérios e temores por baixo desse véu negro que nos cobre todos os dias. Eu sempre me pelei de medo do escuro. Uma das minhas tarefas era fechar as janelas todos os dias e eu fazia isso com o coração prestes a pular pela boca, tamanho o medo do escuro. Não, nunca me ocorreu ir acendendo a luz dos 12 cômodos da casa enquanto eu fazia isso. Quando fechava a última janela eu voltava correndo até chegar à cozinha são e salvo. Grande parte desse medo eu devo à mãe, que sempre contava suas histórias de assombração com muitos lobisomens, mulas-sem-cabeça, almas e outras criaturas. Ela jura de pés juntos que o Saci em pessoa fumou o cachimbo da vó Maria, sua sogra, enquanto ela cochilava na cozinha. Mas o que eu mais tinha medo mesmo era o tal do lobisomem, que aqui em Minas não é um lobo, mas sim um porco peludo de presas saltadas que percorrem sete arraiais pelas redondezas assaltando galinheiros pra comer as bostas das galinhas. Uma das minhas histórias preferidas, hoje que eu não tenho medo é do dia em que o lobisomem derrubou a parede de sua casa. Era tarde da noite e ela estava com sua cunhada na cozinha de sua casa de pau-a-pique conversando quando se deram conta que já era tarde e fizeram troça de um velho q morava por perto

_Vamos dormir, comadre Dolores. Hoje é dia do Seu Antônio virar lobisomem.

Dito isso, deram umas risadas e foram deitar. Ao acabarem suas rezas e já debaixo das cobertas, ouviram as galinhas alvoroçadas no galinheiro. Ficaram quietas e viram que o barulho se aproximava. Quando menos esperavam, a parede da cozinha veio abaixo. Levantaram e correram até lá para ver e puderam avistar o bicho se afastando. Era um porco peludo e enorme, com a traseira mais alta do que a parte da frente que ia em disparada pela estrada na frente da casa. Sim, era o lobisomem. O Seu Antônio tinha resolvido se vingar da brincadeira das duas, e de quebra faturar umas bostinhas no galinheiro.

A mãe sempre contava essas histórias na hora da gente ir pra cama e eu sempre rezava uma Ave Maria extra, pro caso do Seu Antônio ainda estar vivo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Até onde vai a bondade!


Sempre tivemos muita fruta em casa. O pomar do sítio é grande e tem de tudo um pouco. É pera,jabuticaba, mamão, caqui, goiaba, figo, acerola, banana, mexerica e vários tipos de laranja. Nem que a gente quisesse fava conta de comer tudo. Por conta disso, a mãe nunca ligou de dar as frutas a quem pedisse. Era só pedir, entrar e pegar à vontade. Só que sempre tem gente que se aproveita da bondade alheia. E tinha uma fulana que era dessas. Ela parecia aquele povo caroneiro, que esconde as crianças pra pedir carona, sabe? Ela fazia isso, pedia as frutas pra ela e entrava no pomar com uma tropa. A mãe ficava doida de raiva com a folga da dita cuja, que além de tudo escolhia sempre as frutas maiores, mais bonitas e mais doces.
Um dia, em vez da tal da fulana ir buscar as frutas, mandou só as crianças. A mãe já arquitetou um plano.
_ Vou endireitar ela!- Ela sempre dizia isso quando ia passar um corretivo em alguém.
Ela mandou os filhos da fulana esperarem e nos deu as instruções:
_ Vai lá e cata tudo o que é laranja daquele pé que dá as mais azedas. Pode apanhar todas, não deixa uma!
Como criança de roça é bicho do cão e adora um mal-feito, em 5 minutos enchemos um saco de laranjas q custamos a carregar. Entregamos a encomenda e ficamos ansiosos pra saber o resultado.
Pois bem, passam-se dois dias e voltam as crianças de novo. A mãe foi encucada ver o que queriam. Perguntou e um deles respondeu:
_ A mãe mandou pedir mais laranjas, mas falou q dessa vez é pra senhora mandar das laranjas doces, que aquelas não prestaram nem pra fazer suco!
Ouvimos a resposta dada com muita classe:
_ Manda tua mãe tirar laranja doce na puta que pariu!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Como me despedi de 2009 e comecei 2010

Já quase sem perspecitva alguma para o reveillon, recebo o telefonema de uma pessoa X que conehci aqui em Barbacena. Só falava com o tal por msn e nunca o tinha visto.
_E aí Cara? O que vai fazer no Ano Novo?
_Nada. Tô sem grana e minha viagem miou.
_Quer ir pra Copacabana? Cinquentão, tá faltando um no carro!
_Ida e volta?
_Ida e volta.
_Bóra!
Falei com minha tia,que ia me financiar o restante da viagem e mais 15 contos pra eu comer, que ia viajar com o pessoal do curso q tou fazendo e marquei de conehcer o cara no outro dia, véspera da viagem.
Chego na cidade e encontro o fulano. Regata, bermuda e tênis. Cara de 30 e poucos de longe... Enfim, era alguém que poderia se passar como amigo em uma cidade como o Rio de Janeiro sem me fazer passar vergonha. Conversamos e combinamos a hora de sair no dia 30. Sairíamos às 23 e pouco pra chegar de manhã e conseguir vaga no estacionamento perto da praia.
Me arrumei e fui pra cidade. Encontrei o distinto que parecia ter ficado marinado em algum perfume da Avon (nada contra, acho ótimo). Fomos pro posto de gasolina esperar o carro.
_Olha, o carro não é lá o que você está acostumado não. É meio velhinho.
Essa advertência me fez gelar. Imaginei algo no estilo Flintstones. Antes fosse!
Chega um Chevette vermelho rebaixado, ano 84 segundo o dono. Dentro dele o motorista, carinhosamente apelidado de Sapão, um casalzinho de 20 e poucos e muita tralha. As paredes internas do carro forradas por um treco brilhante que imitava piso de ônibus e um cheiro de mofo quase inebriante. Sapão proferiu suas primerias e animadoras palavras:
_Acha q o chevettinho guenta? Minha irmã falou que ele não passava de Juiz de fora.
Entramos. Estava chovendo pouco e eu dei graças a Deus q o carro não passava de 80km/h.
Como tenho pernas compridas eu fui na frente, do lado do Sapão, como co-piloto. Ele me entregou um papel que parecia ter sido escrito por uma criança de 5 anos com dislexia severa e disse que era o mapa pra cortar os pedágios. Eu teria que decifrar aquilo e achar o caminho. Quem me conhece já sabe a merda que deu. Eu malemal sei ler uma receita escrita de forma correta, quanto mais os escritos de um homem-sapo. Fui colocar o cinto, e percebi q ele funcionaria tão bem quanto uma fita crepe.
Começamos a viagem. Entramos em lugares que nem pareciam habitados, estradas que pareciam q iam acabar ali no meio do nada. Cada quebra-molas parecia a muralha da China que o tal carrinho rebaixado lutava bravamente pra atravessar. Teve momentos que achei que íamos ficar ali enganchados. Cada vez que o assoalho do carro raspava num troço daqueles um arrepio percorria minha espinha do cóccix ao pescoço.Quase uma hora e meia depois voltamos à BR e descobri que havia, mais pra frente, outro atalho desses!
Começou a chover forte. O carro que já não corria, começou a rastejar. Senti algo úmido nos meus pés. Uma goteira que fez com que tivesse que tirar meus tênis, que não secariam até o dia de voltar, me fazendo passar o tempo todo com meu par de havaianas.
Saindo dos atalhos e finalmente rumo à terra prometida, começamos a descer a serra. Quando eu pensei que poderia dormir um pouco, olho pro lado e vejo que o motorista pegou a minha vez, e dormiu antes. Gritei a primeira coisa q me veio à mente, algo como um "Arghauleaaa" e ele abriu os olhos. Fui tentando conversar com ele pra ele não dormir e ele mordeno os beiços com toda a força com o mesmo objetivo.
Mais uma hora e pouco chegamos à praia e logo achamos onde estacionar. Corri pro mar e, mesmo com chuva, agradeci a Iemanjá por estar vivo.
Estava com muito sono, pois não tinha dormido durante toda a viagem, ainda mais com a goteira nos pés. Porém, o casal cismou de trepar o dia todo no chevette, e tive que ficar perambulando pela praia com o tal que me chamou pra viagem. confesso que levei um susto quando o dito cujo colocou a sandália. Unha de torresmo! Eeeeeeeeeeeeeew. Cada vez que olhava praquela unha de torresmo era um engulho!
Não ia rolar passar a noite com o povo. Comprei um cartão e tentei desesperadamente ligar pro Marcel e Pro Silvestre, que achei serem mais difíceis de achar, uma vez que Polly morava por perto. Caixa postal. Todos os números que tentava ligar davam caixa postal. O desespero foi batendo e o cara não queria que eu ligasse pra Ciça nem pra Polly. Acho q ele não queria mulher nenhuma na jogada. Mas a certa hora, já com os pés em brasa e com areia em lugares no meu corpo que eu nem sabia existirem me agarrei ao primeiro orelhão e falei com Ciça, que estava mal e disse pra eu ligar pra Polly, minha santa Salvadora.
Depois de ameaças de ser deixado só em plena Copacabana, sem ter dinheiro pra voltar e com meus últimos trocados no carro, larguei o Unha de Torresmo falando sozinho e fui pra Ipanema. Fui ao encontro dos meus! Tomei um banho, chapei, comi a melhor macarronada de 2009 e fomos rumo à festa cantando Roberto Carlos e Daniela Mercury! A certa hora me perdi de todo mundo, ou me despedi, não me lembro. A caminho do carro, encontrei um soldado alemão. JURO! Manuel Roth, era o nome do gringo, foi ouvindo minhas merdas e me amparando até eu chegar no carro. Não me lembro o que falei, mas me lembro que ele ria muito e que chegamos no carro e fui abrindo a porta e peguei o casalzinho numa posição não muito ortodoxa. E a buça raspadinha dela não era lá muito estética. Eles se assustaram.
_Feliz Ano Novo! (foi o que eu quis dizer, embora possa ter soado um pouco diferente.)
Bem, não precisa descrever a volta, que foi mais ou menos parecida com a ida.
Queria também aproveitar e agradecer a todos os meus amigos, e em especial à Ana Paula Barbi por me dar de presente o melhor reveillon de toda a minha vida. Te amo Polly! Ticurupaco iôiô, somos Muzenza larauê!