segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sobre nossos poderes secretos

Sempre odiei as aulas de Educação Física. O fato de ser filho único pode ter contribuído para que isso acontecesse. A verdade é que eu nunca soube, nem nunca tive vontade de saber jogar bola, tinha vergonha de pôr o uniforme, e sempre era o último a ser escolhido pra qualquer coisa mesmo. Mas, como na vida não se pode fazer somente o que se quer eu era obrigado a fazer as tais aulas. Pra facilitar a troca do uniforme, pois não podíamos assistir as outras aulas de bermuda, eu costumava colocar a calça por cima da bermuda mesmo, pra não precisar dividir o vestiário com nenhum dos meninos da minha turma. Não era o tipo popular, e nunca tive amigos homens na escola. 
Um dia estava muito calor, não havia meios de ir com uma calça por cima da bermuda. Merda! Ia ter que entrar no vestiário. desci da sala de aula alguns minutos antes pra tentat pegar o vestiário sem ninguém e me trocar em paz. Mas acho que alguém mais teve essa idéia, e aí o que eu esperava ser ruim, acabou sendo pior.
Roney era o típico galã da sétima série. Bonito, sorriso largo e sempre presente, encantava com toda facilidade do mundo as meninas e também uns meninos, diga-se de passagem. Ele entra no vestário e, quando eu me preparava pra sair imediatamente e calçar o tênis no pátio, o vento bateu a porta com força, trancando-a e derrubando a chave para o lado de fora. Aquilo não podia estar acontecendo. Fiquei vermelho e não sabia o que fazer.
_ Acho que vamos ter que pedir ajuda, né?
Assenti com a cabeça e não falei nada. Nisso, ele começou a bater na porta e gritar.
_Estou preso no vestiário! Alguém abre,  por favor?
Ouvi um burburinho. Era a turma toda descendo para a aula. Um dos amigos dele abriu a porta e ele saiu, sem se trocar. Eu tive que sair em seguida. Uma gargalhada coletiva ecoou na minha cabeça. Um mar de dedos apontado pra ele e pra mim.
_Eu sabia q vocês iam zoar, seus babacas. Disse ele antes de uma risadinha sem-graça.
Neste momento, não vi mais nada. Acho que permaneci imóvel por uns cinco minutos. Um branco total ocupava esse espaço de tempo. Nesse dia descobri que tinha esse poder. De instantaneamente criar um vazio, ou uma dimensão paralela, ou o nome que queiram dar. Assim, as coisas não doem tanto. E ao longo de minha vida, tenho feito essas pequenas viagens pra uma terra desconhecida, onde só eu existo, ou nem existo. E volto são e salvo.

6 comentários:

Erikinha disse...

Eu tbm tenho esse poder...de me ausentar da vida por alguns instantes...é o que em mantém forte quando o mundo desaba aos meus pés...Acho que assim tudo fica mais facil...ou não ...o importante é que somos super heróis...de alguma forma..quem disse que viver é para os fracos?!
Beijos vc ta cada dia melhor.....

Ana Paula Xavier disse...

e comofas,hein?
to precisando...

Marcel disse...

Nem vou tirar barato hj... rs
Espero que esteja bem... e sei que vc tem outros poderes além desse!
Ti amu!
Bjus

Leonardo disse...

queria poder ter esse poder, pra não precisar chorar.

Saudades Charles
(Léo)

Espiões da Gula disse...

A infância é cruel às vezes. Também odiava as aulas de educação física e, onde eu estudava, era preciso fazer de saia (acredite!!!)... Mas esse tempo passou e a gente guarda as boas recordações e dá risada das não tão boas.

Beijos!

Jéssica - Espiã da Gula

_Diogo Rodrigues disse...

Incrível. Quando eu era bem pequeno - na época do ensino fundamental - também aprendi vários "poderes". Pois, somente através "dessas forças" podemos dar um jeitinho aqui e ali na vida.

Descobri seu blog "frutricando" através de outros. Estou gostando.
Abraço!