domingo, 16 de setembro de 2012

Sobre o ódio


Hoje era pra ser um domingo normal, mas não está sendo. Quem está em São Paulo sabe que está um calor infernal. Eu e Johan levantamos cedo, tomamos café e fomos ao museu de insetos do Instituto Biológico lá na Vila Mariana. A temperatura já devia estar passando da casa dos 30 graus e eram ainda 11 da manhã. Comecei a me sentir mal. Paramos pra almoçar e decidimos ir ao IMAX Bourbon mais tarde. Depois do almoço, fomos direto comprar os ingressos pra garantir bons lugares. Nesse meio tempo parei umas 3 ou 4 vezes em lugares diferentes pra ir ao banheiro e levar o rosto, já me sentindo sem  forças e com sintomas de uma leve desidratação. Compramos os ingressos e fomos para o ponto do ônibus ali na frente do Bourbon mesmo pra pegarmos um ônibus que fosse até a Barra Funda de onde viríamos para casa. 
Ao chegar no ponto, a ponto de desmaiar de calor, me sentei e comecei a ler a programação de cinema para o mês quando ouço uma senhora falar para outra que estava de pé e eu não tinha visto:
_Pode sentar aqui, minha senhora. Esses daí não vão te dar o lugar mesmo. Depois eles exigem respeito.
A outra mulher sentou-se e, por um momento me senti envergonhado por não ter visto que havia outra senhora em pé, mas eu estava passando mal e entretido com a leitura e o Johan nem sequer notou o que estava acontecendo, por não ser daqui não sabe dos costumes. Logo a senhora que tinha acabado de sentar se levantou e entrou no primeiro ônibus, no que a outra disse:
_Vai no primeiro mesmo, né? Tem que ser assim, porque se depender dessa gente...
Eu me levantei porque meu ônibus se aproximava, dei o sinal para o motorista parar e disse para ela:
_A senhora é muito mal educada. Eu não tinha visto que havia mais alguém no ponto, estava lendo. Era só me avisar que eu me levantava e dava o lugar.
No que ela, com toda a classe de uma elefanta rolando ladeira abaixo disse:
_Você é um folgado, fingiu que não estava vendo. Por isso que tem gente que mata essa raça de vocês, bando de viados. Tem mais é que morrer mesmo! Eu adoraria viver em um lugar onde não tivesse que olhar para a cara de gente como vocês, de tanto nojo que sinto!
Fiquei cego de raiva. Fiz sinal para que o motorista continuasse e voltei para o ponto.
_O que foi que a senhora disse?- perguntei. Antes que ela respondesse, me veio uma cena à cabeça. No dia 11 de fevereiro de 2009, quando fiz 30 anos, enquanto meu amigo Israel me carregava bêbado no ombro, me levando para casa. Um cara abaixou o vidro do carro e disse:
_Vai dar a bunda, hein bichinha?
Prontamente eu respondi.
_Que Deus te ouça!
Esse homem deu a volta com o carro, parou e me deu um tapa no meio da fuça. Meu amigo foi me defender e levou um soco. Peguei o celular pra ligar para a polícia e levei outro no pé do ouvido e meu celular se espatifou. Ele voltou pro carro, pegou uma arma e nos ameaçou, disse que era da polícia federal e que da próxima vez poderia ser muito pior.
Essa cena toda voltou na minha cabeça hoje. Vi naquela senhora, aparentemente uma mãe de família e uma mulher digna e de respeito, o policial que me agrediu sem motivos. Respondi a ela em alto e bom som:
_Sinto pena de uma pessoa como a senhora, preconceituosa, suja e desinformada. Por causa de pessoas como você, que milhares de pessoas como eu são agredidas, torturadas e assassinadas todos os dias. Pessoas ignorantes, que não sabem o que um ser humano de valor. Pessoas que arrotam dignidade, mas fedem por dentro. Pessoas que frequentam igrejas e associações e se dizem pessoas de respeito, e saem por aí matando e ferindo com armas e palavras. Eu é que sinto nojo da senhora, uma mulher imunda.
Ao que ela me responde:
_Sou de igreja mesmo, mas não sou de associação nenhuma queridinho. Sou do TRIBUNAL DE JUSTIÇA e lá pessoas como você dão trabalho pra nós. Fazem a gente perder o nosso tempo com viadices. Tem que morrer mesmo e livrar o mundo dessa raça maldita.
Não vou escrever mais o resto da discussão, porque o negócio ficou feio. A ponto da tal mulher me encostar a mão na cara, ameaçando dar um tapa. Coisa que, caso ela fizesse eu revidasse e esquentasse a lata dela com minha mão, eu seria preso como agressor. As pessoas que passavam pela rua me viam assim, seus olhares davam razão a ela. Era uma bicha contra uma senhora de bem que trabalha no tribunal de justiça.
Aí me vem à cabeça que por duas vezes, pessoas que deveriam proteger a população e trabalhar para que eu possa ter meus direitos, me oefenderam e me ameaçaram. E depois, elas contam a sua versão dos fatos com orgulho, se sentindo vitoriosas. Por isso escrevi aqui. Quero que vocês que leram divulguem, para mostrar para as pessoas que ainda existe sim o preconceito, o ódio. E se porventura essa criatura for mãe, parente ou conhecida de um de vocês, meus sentimentos, pois ninguém merece ter na família ou por perto uma pessoa tão horrível e tão sem caráter.