Eu estudava em uma escola na zona rural de Barbacena, em uma localidade chamada José Luiz. Embora pra muita gente isso pareça uma coisa distante ou mesmo surreal, no tempo em que estudei ainda havia castigo corporal na escola. Aprendíamos entre reguadas, beliscões e puxões de orelha. Me lembro que quando a mãe me colocava na kombi da prefeitura ela falava pra minha professora:
_ Pode descer o cacete, por minha conta!
Eu estudava com o Nêgo, aquele que fumava escondido comigo. A gente tinha pavor de errar. Estudávamos em casa, fazíamos o dever e, quando chegávamos na escola era aquele medo. Será que íamos levar um puxão de orelha ou um cascudo?
O puxão de orelha doía mais na alma do que na orelha, na verdade. Ele nos tirava o direito de errar pra poder aprender. Dependendo da cara da professora ao corrigir nossas tarefas, ou ao perceber um comportamento um pouco inadequado, a gente já se encolhia e esperava o castigo.
Esse fantasma do puxão de orelha ainda me persegue até hoje. Tenho muito medo de errar, ou fazer algo que desagrade a alguém e levar um puxão de orelha. Ainda encontro por aí muitas professoras que preferem dar um puxão de orelha a ensinar o que é certo ou aceitar que você teve dificuldade em assimilar algo. Ainda me encolho, esperando o castigo que virá, de uma forma ou de outra.
Estou aqui encolhidinho agora, vai doer... Eu sei que vai.