Não sei como começar. A princípio vem a dor absurda de um ciclo que está prestes a terminar. Algo para o qual eu já devia estar preparado, mas descobri não estar. Chegar em casa e ver a mãe lá na cama, amarela e fraquinha, reclamando das dores me cortou o coração. Aquela mesma cama que eu dividi com ela durante anos, hoje parece incomodar. As costas não se ajeitam, o espaço parece ser pouco.
Além dessa dor da perda iminente, há também a dor da solidão. Com a maioria dos amigos distantes, de todas as formas que poderiam estar, fica chato levar os problemas àqueles poucos que estão sempre por perto. Pela primrira vez na vida eu sinto a necessidade de ter alguem do meu lado me consumir. Eu que sempre gostei de brincar sozinho e falar sozinho, hoje as palavras me faltam por saber que não há ninguem por perto pra escutá-las. Daí eu começo a imaginar coisas, fantasiar, como a criança que busca refúgio em um mundo imaginário. Começo a tecer tramas que espero que se tornem realidade. Começo a ver carinho em palavras comuns, ternura em gestos corriqueiros e vou caminhando pra algo que nunca deu certo comigo, o amor. No fundo tenho a esperança de que pode ser dessa vez. Que finalmente vão enxergar a pessoa que eu sei que tem aqui dentro e que quase ninguem vê. Penso que posso ser querido e amado, ainda que o pessimismo me diga que isso é impossível, e que alguém que está por aí vai me abraçar pra ajudar a suportar as coisas terríveis que estão por vir.
Ao mesmo tempo, por nunca ter me sentido amado, contraditoriamente eu penso que amar dói, e que acho que é algo para o qual não estou preparado. Acho que só eu que vejo o potencial que tenho e que, por mais que tente, ninguém nunca vai me ver desse modo. No fim das contas estarei aqui, sentado no chão do meu quarto, falando sozinho...